A pesquisadora e ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) Thelma Krug afirmou que a Cúpula da Amazônia foi uma demonstração “de que o Brasil não está pensando apenas nele, mas em toda a região e certamente”.
E, na minha opinião, hospedar a COP30 em Belém é uma ótima forma de mostrar o que ainda temos de floresta. Mas, ao mesmo tempo, na minha opinião, a mensagem principal deve ser para mostrar o quanto essa floresta está vulnerável ao desmatamento e que, se não houver um esforço paralelo à redução do desmatamento, junto com o esforço de descarbonização, as florestas e os ecossistemas naturais sendo muito vulneráveis à mudança do clima, tornam essa situação bem complicada”, disse ela a BBC Brasil.
Krug foi candidata è presidência do IPCC, mas acabou perdendo para o inglês o cientista britânico Jim Skea, nas eleições de junho passado.
Criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988, o IPCC tem o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas avaliações científicas regulares sobre a mudança do clima, suas implicações e possíveis riscos futuros, bem como para propor opções de adaptação e mitigação. Atualmente, o IPCC possui 195 países membros, entre eles o Brasil.
Na entrevista, ela alertou sobre a alarmante vulnerabilidade do Brasil e de toda a América Latina às mudanças climáticas, em entrevista a BBC Brasil. De acordo com ela, nosso País é vulnerável por conta das secas, das fortes precipitações, do aumento da temperatura média, das ondas de calor e dos ciclones tropicais.
“Mas boa parte da vulnerabilidade se deve a componentes externos, como a desigualdade social, a pobreza e o uso de recursos de maneira não sustentável, que agravam a mudança do clima, disse.
Mudanças climáticas
Ela afirmou que já é possível já sentir as consequências das mudanças climáticas. A maior delas eventos, como secas e ciclones, vão ficar cada vez mais frequentes e mais intensos.
“Na região sul, por exemplo, já se constatou que o aumento de fortes precipitações está relacionado à ação humana. Na Amazônia, as secas mais frequentes registradas desde 2005 já saíram do padrão de variabilidade natural e começam a ser entendidas como influenciadas pela mudança do clima de natureza antrópica.
Além disso, ela diz, já foi identificado um aumento da temperatura média em todas as regiões do Brasil, causado pela ação humana. “E se tem a digital humana significa que tende a aumentar ainda mais”.
Em contrapartida, Krug afirma que, segundo o IPCC, já existem opções de mitigação que reduziriam pela metade as emissões de gás de efeito estufa relativas ao ano de 2019 até 2030.
“Ou seja, não estamos dependentes de novas tecnologias para cortar as emissões.O que existem são barreiras de diversas naturezas que dificultam a implementação. E para os países em desenvolvimento, que são a maioria, a maior barreira é a financeira. Falta investimento estrangeiro, iniciativas de transferência de tecnologia ou capacitação”.
Por falar em investimento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira, 14, que a contribuição de países ricos para a preservação da Floresta Amazônica não é favor, mas o pagamento de uma dívida com o planeta.
“Temos condições de chegar ao mundo, lá nos Emirados Árabes, e dizer o seguinte: ‘olha, a situação é essa. Nós queremos essa contribuição de vocês. E isso não é favor. É pagamento de uma dívida que vocês têm com o planeta Terra porque vocês derrubaram a floresta de vocês 100 ou 150 anos antes de nós. Então, agora, vocês paguem pra que a gente possa preservar as nossas florestas gerando emprego, oportunidades de trabalho e condições de melhorar a vida das pessoas,” explicou, durante o programa Conversa com o presidente.