O Código Florestal Brasileiro estabelece que as propriedades rurais localizadas na Amazônia deveriam manter 80% de sua cobertura vegetal nativa, mas o que se observa é um grande déficit de reserva legal, que ultrapassa 18 milhões de hectares, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A perda de cobertura florestal preocupa e, por isso, estratégias de recuperação como a regeneração natural tem sido mais pesquisadas.
A regeneração é uma solução baseada na própria floresta, em que se permite que uma área devastada se recupere sozinha. Estudos científicos demonstram que essas florestas secundárias quando atingem mais de 20 anos conseguem alcançar estoques consideráveis de carbono e conservar a biodiversidade.
O avanço das pesquisas nesse tema e a realidade do potencial dessa abordagem foram abordados durante o simpósio “A regeneração natural da floresta amazônica no contexto da regularização ambiental e da restauração florestal”, realizado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) na segunda-feira, 25.
“Consideramos que o aproveitamento da regeneração natural em áreas que foram desmatadas e abandonadas ou degradadas pelo fogo é importante para além de cuidar de processos naturais de sucessão, pois pode agregar valores econômicos pelo menor custo de sua implantação”, explica a pesquisadora do MPEG, Ima Vieira.
Um dos aspectos discutidos foi a vantagem de promover a regeneração natural em áreas com menos tempo de uso e próximas de outras florestas remanescentes. A interação entre os dois ambientes favorece o fornecimento de sementes que contribui para a recomposição da paisagem, por exemplo.
“As áreas que tem menos floresta na paisagem, ou seja, que são ocupadas há muito tempo, vão ter um potencial menor de regeneração. Mas, mesmo nessas, a floresta consegue começar a regenerar. O que se precisa fazer é encontrar métodos para aumentar a sua diversidade”, acrescenta a professora da Universidade Federal de Santa Catarina e vice-coordenadora do projeto SinBiose, Catarina Jakovac.
A regeneração favorece ainda a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e, por isso, deve ser melhor compreendida pelo poder público para que projetos desse tipo sejam incentivados no campo. Para Ima Vieira, o grande objetivo de discussões como essa é a capacidade de influenciar a elaboração de políticas públicas.
O secretário adjunto de gestão e regularidade ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Rodolpho Zaluth, também defendeu a contribuição que a ciência pode dar para as ações do governo e chamou a atenção dos pesquisadores para os desafios enfrentados no atendimento às comunidades rurais.
Zaluth apresentou dados do programa Regulariza Pará que mostram que dos 156 mil cadastros ambientais rurais (CAR’s) analisados no estado cerca de 126 mil possuem pendências. A área somada do passivo ambiental desses imóveis na conservação das áreas nativas é de cerca de 4,6 milhões hectares.
Para ele, as consequências disso serão problemas como a restrição de acesso ao crédito e um incentivo maior às cadeias de commodities ao invés da alimentação e do abastecimento para o mercado interno. “É importante que a estratégia de restauração esteja voltada para o pequeno produtor, que é a maioria dos CAR”, frisou.
Por Fabrício Queiroz