Por Fabrício Queiroz
A imensidão da floresta atravessada pelo maior rio do mundo é a principal imagem associada pelo senso comum à Amazônia, mas a região é composta também por outros ecossistemas tão importantes para a manutenção da biodiversidade e da diversidade sociocultural local. A zona costeira amazônica, por exemplo, se estende por cerca de 2.250 km dos estados do Amapá, Pará e Maranhão e está diretamente ligada à cultura e aos modos de vida de populações ribeirinhas e pesqueiras.
Essa também é a área de interesse de um grupo de pesquisadores que há 13 anos criou o Observatório da Costa Amazônica (OCA). O objetivo é atuar no campo da divulgação científica, disponibilizando dados de pesquisa e de monitoramento para auxiliar no desenvolvimento de novos estudos, mas também ajudar a sociedade no uso dos recursos e no entendimento da hidrodinâmica da região. Na semana em que se celebra O Dia da Água, o Pará Terra Boa conversou com especialistas neste assunto.
“Um dos dados mais importantes é a maré. É um fenômeno muito influente em toda a costa amazônica. A gente tem pontos onde essa previsão da maré não é dada por portais dedicados exclusivamente à navegação. Também fornecemos informações como temperatura da água, salinidade, corrente e outras informações úteis sobre a costa amazônica”, explica o professor do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador do Oca, Marcelo Rollnic, destacando um dos eixos do projeto denominado OCA Prevê.
Além disso, o Observatório abrange outras vertentes, sendo a mais recente o OCA Social que promove ações voltadas ao envolvimento das comunidades costeiras dos municípios de Soure, São Caetano de Odivelas, Viseu e Maracanã no levantamento de informações ambientais de interesse para elas, a exemplo do estoque pesqueiro.
“A nossa ideia é incorporar as comunidades tracionais nesse trabalho de levantamento. Com isso, temos uma união de esforços que garante um monitoramento mais participativo da costa”, afirma o pesquisador.
Apesar da importância da zona costeira para muitas populações e para a manutenção de uma rica biodiversidade presente nos mangues, por exemplo, Rollnic nota que a região merece mais atenção, sobretudo porque os impactos das ações humanas já são observados no presente e podem se intensificar ainda mais no futuro.
“O principal problema atual que a gente observa é relacionado aos resíduos na água. As mudanças climáticas precisam ser monitoradas a longo prazo, a erosão afeta áreas mais pontuais, mas um efeito antrópico evidente e preocupante é com relação aos resíduos sólidos nos rios, estuários, praias e oceanos. A gente vê isso na prática quando coleta amostras, utilizando modelos de dispersão e da atuação nas comunidades, o que demonstra que há uma grande lacuna na gestão de resíduos por parte do poder público”, pontua.
Para ele, o enfrentamento desses impactos passa pela promoção de ações de educação ambiental e de monitoramento em parceria com as comunidades costeiras, além do fortalecimento da pesquisa nessas áreas.
“A Amazônia é movida pela questão hídrica. Além de ter o Amazonas, que é maior rio do mundo em volume, e o rio Pará que está entre os maiores, tem o oceano com marés que alcançam de 5 a 10 metros, uma vazão de rio muito forte, áreas muito drenadas, sem contar a grande quantidade de água que vem pela atmosfera. Todo esse balanço hídrico vai pautar toda a economia e a dinâmica social da região. Por isso, é preciso aproveitar de forma sustentável e termos melhores condições de vida para a sociedade que vive nessa parte tão impar do planeta”, defende Marcelo Rollnic.