“Eu quero continuar vivo e morrer de causas naturais”, diz um morador de São Félix do Xingu à reportagem do tradicional jornal norte-americano “The Washington Post“.
“Pare de fazer perguntas”, diz outro morador do município aos jornalistas.
“Você mora longe daqui, e eu moro aqui, e quem vai acabar morto sou eu.” Um fazendeiro local implorou: “Você não pode usar meu nome. Essas são pessoas perigosas”.
Esses pessoas que vivem em São Félix do Xingu (PA) pediram anonimato à equipe do internacional jornal por medo de morrer. Elas foram perguntadas sobre o clima de terror na cidade comandada pelo prefeito João Cléber de Sousa Torres (MDB) e seu irmão, Francisco Torres de Paula Filho, para uma reportagem publicada na quarta-feira, 27/07. Não à toa, o jornal chama João Cléber de “deus de São Félix”. Sua ficha de suspeitas criminais é extensa há tempos, assim como a do irmão.
Além de ser o município campeão em cabeças de gado do Brasil, São Félix ostenta outro título de dar vergonha: de ser um dos maiores desmatadores da Amazônia. Ali a Justiça não chega: morre aquele(a) que incomodar ou questionar os interesses de quem pratica o crime de roubo de terra pública (grilagem). Há listas de marcados para morrer.
A Terra Indígena Apyterewa, de 777 mil hectares e homologada desde 2007, é o filé cobiçado pelos criminosos. Avançam sobre esse território dos Parakanã sem pestanejar, já que não há autoridade capaz de frear esse ‘deus nos acuda”.
Para se ter uma ideia do tipo de gente que tomou conta de São Félix, o “Washington Post” conversou com uma tal de Monica Silva, que já foi logo avisando que se fizessem foto dela, “ia dar ruim” para a reportagem. Ela pretende construir um hotel, bar e loja na região. Ela fala do atual momento de “expansão” dos negócios na cidade, de muita gente chegando para comprar terra em São Félix, especialmente as dos indígenas, o que deveria dar cadeia.
“Se eles (compradores) querem a terra desmatada, meu pessoal se encarrega disso”, diz. Ela conta que se for preciso, resolve as coisas na base do “facão”.
O jornal dos Estados Unidos mostra indignação com o fato de João Cleber ter sido reeleito prefeito de São Félix. Ele foi citado em 2003, em relatório do Ministério Público Federal (MPF), como principal mandante da morte de sete trabalhadores rurais e um comerciante na Vila Taboca, no município, conforme mostrou o site “De Olho nos Ruralistas”: “Acusados de grilagem, desmatamento e outros crimes são eleitos para prefeituras no sul do Pará”. Em 2014, ele esteve na lista suja de trabalho escravo, pelas péssimas condições dadas aos trabalhadores da fazenda Bom Jardim. Ele também é citado em diferentes casos de corrupção e, em um deles, foi acusado de tentar coagir testemunhas.
Fonte: The Washington Post e De Olho nos Ruralistas