A importância da maior floresta tropical do mundo como regulador do clima global é indiscutível. Contudo, os impactos e os efeitos da mudança do clima sobre os serviços ecossistêmicos que a Amazônia presta ainda não incertos. Uma das questões mais importantes sobre a região envolve a resiliência da floresta ao aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera. Para descobrir isso, foi criado o projeto AmazonFACE.
“Os estudos anteriores permitiram compreender o papel da Amazônia na situação global e regional. A pergunta é qual o impacto da mudança do clima sobre a Amazônia. Aqui mudamos a perspectiva com o projeto AmazonFACE”, afirmou o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Osvaldo Moraes.
De acordo com os pesquisadores, que apresentaram o projeto na COP28, esse é um dos projetos mais importantes da atualidade sobre clima no mundo. O experimento vai testar em campo, e de maneira inédita em uma floresta tropical, a hipótese sobre o que ocorre com a floresta.
“O AmazonFACE é desenhado especificamente para resolver uma das maiores incertezas da ciência do clima hoje: o que vai acontecer com Amazônia”, explicou o coordenador científico do programa e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Carlos Alberto Quesada.
Em sua versão completa, o projeto contará com seis estruturas circulares com 30 metros de diâmetro e 16 torres com 35 metros de altura. Três anéis farão aspersão de CO2 no ambiente, simulando, de forma controlada, a concentração de gás carbônico que provavelmente teremos por volta de 2060. Os outros três servirão como controle, com aspersão de ar ambiente.
“Trata-se de um grande laboratório a céu aberto, uma janela para o futuro”, disse Quesada.
Já foram montados dois anéis, sendo um deles para os testes propriamente ditos e o segundo para controle. O projeto fica localizado a cerca de 70 quilômetros de Manaus, em um campo de testes do Inpa.
Relevância para a humanidade
Os pesquisadores querem compreender como a maior floresta tropical do mundo reagirá, daqui a 30 ou 50 anos, ao aumento de CO2 na atmosfera.
David Lapola, pesquisador da Unicamp e um dos coordenadores do projeto, lembrou que a floresta é um regulador do clima global e isso dá uma dimensão da importância de entender os efeitos da mudança do clima nesse bioma. “Esse é um experimento que tem relevância para a humanidade”, pontuou.
Mas, ainda segundo ele, não podemos nos esquecer dos aspectos sociais e econômicos que o experimento AmazonFace também vai investigar.
“O que vai acontecer com todas as plantas utilizadas pelas populações da região amazônica, como será afetada a colheita de açaí, por exemplo?” “É fundamental estabelecer esse nexo entre os processos ecológicos e a provisão de serviços ecossistêmicos”, destacou.
Expectativa é ter resultados em Belém
A expectativa é ter resultados do experimento em campo prontos para serem apresentados na COP30, que será realizada em Belém (PA).
“Esperamos estar influenciando o discurso político em torno das trajetórias da Amazônia”, afirmou Quesada.
O programa científico instituído pelo MCTI em 2014 teve a etapa de construção da infraestrutura de campo anunciada na COP26 e chega à COP28 em uma nova fase, com a finalização dos primeiros anéis do experimento. O projeto é financiado pelos governos brasileiro e britânico, sendo o principal projeto de cooperação científica entre os dois países.
“Esse é um experimento de ruptura para mostrar o que é possível quando unimos ciência e uma ‘máquina do tempo’ no meio da Amazônia para entender o potencial em relação ao futuro da mudança climática”, declarou o diretor de pesquisa climática do Foreign and Commonwealth Development Office (FCDO), Stephen Mooney