Um estudo inédito elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) mostra que o cenário de seca extrema, como a vivenciada no ano passado, tende a se tornar frequente nos próximos anos. O modelo climático elaborado ressalta que a disponibilidade hídrica deve reduzir em mais de 40% na região Norte, onde está uma das bacias hidrográficas mais importantes do País
Para realizar o levantamento, a ANA aplicou diferentes modelos climáticos globais à realidade brasileira visando analisar os efeitos das mudanças climáticas na disponibilidade de água em cenários de curto, médio e longo prazos, que compreende os períodos de 2015 a 2040, de 2041 a 2070 e de 2071 a 2100, respectivamente. Aspectos como a evapotranspiração, chuvas e vazão dos rios também foram levados em conta nas previsões.
“Esse primeiro período que nós examinamos nos traz informações, convergências e consensos que nos permite tomar decisões desde agora. Por exemplo, o modelo climático que aconteceu durante o ano 2023 na região Norte é o modelo mais convergente das nossas modelagens. É aquele onde há redução da disponibilidade hídrica e elevação dos eventos extremos”, disse o diretor da ANA, Nazareno Araújo, durante a apresentação do estudo em live.
Os resultados destacam que as bacias hidrográficas localizadas nas regiões Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste tendem a sofrer com maior escassez hídrica. O estudo ainda alerta que o problema deve se intensificar ao longo dos anos à medida em que aumentam os níveis de emissão dos gases de efeito estufa, um grande propulsor do aquecimento global.
“As projeções indicam que se pode ter diminuições de até 40% na disponibilidade hídrica já em 2040 nas principais regiões hidrográficas brasileiras, além de um aumento substancial no número de trechos de rios intermitentes no futuro nessas regiões”, diz um trecho do documento.
Políticas públicas
No caso específico da região Norte, a previsão é que haja uma redução de vazão rios e queda nos volumes médios de chuva aliado à frequência e intensidade maior das secas. Nesse contexto, a recomendação é que as informações sirvam para o planejamento e implementação de medidas de adaptação para evitar, por exemplo, o isolamento de comunidades ribeirinhas ou a interrupção da navegação, como ocorreu em 2023.
“Isso traz a possibilidade para que os gestores da região e o Governo Federal possam adotar políticas públicas mais perenes, por exemplo, de melhoria da condição de navegação dos rios que tinham água abundante”, acrescentou o diretor Nazareno Araújo.
O lançamento da pesquisa “Impacto da mudança climática nos recursos hídricos do Brasil” foi um dos destaques do anuncio da Jornada da Água 2024, promovida pela ANA em alusão ao Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março. Neste ano, as ações e projetos intersetoriais terão como tema central “A água nos une, o clima nos move”, que busca evidenciar a importância do debate integrado da agenda do clima com a preservação dos recursos hídricos.