Por Sidney Alves
Várias evidências já demonstram o quanto nossos rios amazônicos, sobretudo os que banham o Estado do Pará, estão ficando poluídos. Para entender melhor essa realidade, o Pará Terra Boa conversou com dois pesquisadores do Estado, Eduardo Martinelli e Simone Pereira, ambos da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Engenheira química, especialista em Educação e Problemas Regionais (UFPA) e doutora em Química pela UFBA, Simone citou várias causas, como o mercúrio do garimpo ilegal, a falta de saneamento básico em vários municípios do Estado, o desmatamento, as queimadas, o avanço do agronegócio sobre as áreas de proteção ambiental e o despejo de rejeitos poluentes de empresas estrangeiras, algumas delas de países com forte política ambiental, instaladas em nosso Pará, especialmente em Barcarena.
É bom lembrar que Barcarena viveu em 2018 uma tragédia ambiental com o vazamento de bauxita extraída pela Hydro-Alunorte. Na época, uma perícia do Instituto Evaldo Chagas constatou a existência de um duto clandestino que conduzia resíduos poluentes para cursos d’água na região.
“Em primeiro lugar, tem todos os elementos que envolvem a questão da mineração, basicamente ligado ao mercúrio e o arsênio que são usados nas áreas de garimpos. Logo depois, eu cito a falta de uma estrutura do saneamento básico em várias cidades do Pará, inclusive em Belém, causando uma saturação de matéria orgânica que é jogada nos rios. Depois temos as indústrias presentes no Pará e que de uma maneira geral, e sem qualquer tipo de tratamento, jogam todos os resíduos na floresta e nos rios. Além desses elementos, também cito as queimadas, os desmatamentos e com o avanço do agronegócio em várias localidades da floresta amazônica”, listou a professora.
Biólogo, doutor em oceanografia e professor associado do Instituto de Geociências da UFPA em Belém, Eduardo Martinelli reforça o impacto ambiental causado pelo garimpo.
“As alterações causadas pelo garimpo, ou por atividades de mineração, que ocorrem nos solos da floresta amazônica, geram resíduos que alcançam os rios e os igarapés, causando inevitáveis impactos ambientais”, afirmou.
Sobre a sujeira deixada pelos estrangeiros em nosso território, Simone alertou sobre o que tem ocorrido no município Barcarena nos últimos anos em seu polo de indústrias.
“Eu posso citar os exemplos de empresas provenientes de países que discursam sobre a questão da preservação ao meio ambiente, mas que têm atitudes completamente contrárias quando se instalam aqui na Amazônia. Uma delas é a Hydro-Alunorte, que processa a bauxita para obter a alumina, usada pela Albrás na produção de alumínio metálico. A empresa é de origem norueguesa, que possui uma tradição na defesa da questão ambiental, mas que mantém um depósito de rejeito com 40 milhões de toneladas de lama vermelha, cujo efluente (dejeto líquido) acaba sendo lançado sem tratamento para a retirada dos elementos tóxicos nos rios da região”, contou.
Além da empresa norueguesa, o caso da francesa Imerys é outra evidência de descaso ambiental com o meio ambiente paraense.
Outro exemplo é a empresa Imerys RCC, de capital francês, que processa o caulim para a fabricação de pigmento, produzindo um rejeito rico em bário, que é um elemento tóxico. Ambas processam os minérios, fabricam seus produtos e deixam seus rejeitos aqui na Amazônia”, alertou a professora.
A pesquisadora coordena pesquisas do Laboratório de Química Analítica e Ambiental (LAQUANAM) da UFPA ligadas à contaminação dos rios da Amazônia por elementos tóxicos.
“Por exemplo, é muito comum encontrar ferro e alumínio nas águas da maioria dos rios amazônicos em teores acima do máximo permitido pela legislação brasileira. Esta anomalia se dá pelas características geoquímicas da região, onde o alumínio e o ferro se encontram em concentrações elevadas na maioria dos ecossistemas, afirmou.
Um caso peculiar pesquisado, segundo Simone, é o da foz do Rio Amazonas, que é o maior rio em volume de água no mundo. Um dos estudos identificou altas concentrações de alumínio, cobre, manganês e chumbo no Canal Norte. Já no Canal Sul, arsênio, alumínio e manganês.
A foz do rio Amazonas é um local que concentra todo o aporte dos elementos químicos da maioria dos afluentes do rio Amazonas e quando chegam na sua foz podem estar mais concentrados. Então, fica difícil explicar o porquê destes elementos químicos estarem em altas concentrações na foz do rio Amazonas sem saber exatamente qual a sua origem que pode ser natural ou antrópica”, explicou.
Além da mineração e demais fatores poluentes dos rios, o professor Eduardo Martinelli cita também a agropecuária.
“O transporte de insumos da agropecuária (fertilizantes e agrotóxicos) ocorre por meio da água da chuva para os rios e causam preocupação por contaminar a água”, pontuou.
LEIA MAIS:
Rios contaminados ferem orgulho do paraense no Dia Mundial da Água
Pesquisador do Instituto Evandro Chagas alerta: ‘Rio Tapajós está chegando em seu limite’
Dia Mundial da Água reflete situação precária de saneamento em 3 municípios no Pará