Você olha hoje para seu quintal todo “limpo”, ou seja, sem árvores, e se pergunta: qual tipo de árvore eu planto para que essa terra paraense, úmida, volte a ter sua florestinha? Isso se chama restauração florestal. Quando está tudo desmatado, as primeiras espécies a ressurgir nesse processo de recuperação são as de madeira mais leve e mole, que crescem rapidamente, mas que têm menor valor comercial.
Num segundo momento, recuperam-se as de madeira mais densa e dura, que demoram mais para se desenvolver e alcançam preços mais elevados. Mas quando as florestas são mais secas, ocorre o contrário: inicialmente, reaparecem as árvores de madeira densa e, em seguida, as mais leves.
O grau de umidade das florestas tropicais, como a amazônica, em última instância, pode alterar drasticamente a forma com a qual uma área desmatada inicia seu processo de regeneração. Algumas espécies de plantas precisam da proteção fornecida pelo dossel da floresta para não ressecarem quando expostas em excesso à luz solar.
Por isso, nas florestas secas, as árvores de madeira densa – de crescimento lento, mas mais tolerantes à escassez de água – são as mais importantes na fase inicial de recuperação. Depois que elas se estabelecem, as espécies de madeira menos dura, que perecem mais facilmente em razão do estresse hídrico, surgem a reboque.
Nas florestas chuvosas, como não há períodos de grandes secas, as madeiras menos densas largam na dianteira na primeira etapa, pois são mais eficazes em absorver nutrientes e crescer. Isso explica, por exemplo, por que a capoeira (mata que cresce depois de uma floresta ter sido cortada) em climas mais chuvosos, como na Amazônia, é repleta de embaúbas, plantas leves de madeira oca, enquanto as florestas desmatadas em clima mais seco se regeneram a partir de espécies de madeira densa e dura, como o pau-ferro.
Esse conhecimento foi produzido por 85 pesquisadores de 16 países na tentativa de entender os mecanismos de regeneração de florestas tropicais da América Latina que foram desmatadas. O grupo, batizado de 2ndFOR, relata em seu mais recente estudo que a sucessão florestal ocorre de maneira diferente em função do nível de umidade predominante nas áreas deflorestadas.
O grupo usou dados de mais de 1.400 fragmentos de floresta analisados em 50 dos seus 58 sítios de pesquisa. Foram observadas desde áreas do Pará, desmatadas há 10 anos, até fragmentos de floresta no Panamá, que estão crescendo depois de terem sido destruídos e abandonados há 100 anos.
Sequestro de carbono
A importância de reservar áreas de floresta para regeneração tem crescido nas últimas décadas, sobretudo por causa da questão climática. À medida que o planeta demora mais e mais para reduzir seu ritmo de emissões de dióxido de carbono (CO2), que é poluente, as florestas secundárias, aquelas que surgem da regeneração, se tornam mais importantes na política de mitigação do aquecimento global. Árvores em crescimento absorvem mais carbono.
Melhorar o entendimento sobre o processo de regeneração de áreas desmatadas fornece novos subsídios para os formuladores de políticas e novas informações podem ajudar a decidir quais áreas devem ser priorizadas e quais estratégias de recomposição florestal são mais eficazes.
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp
LEIA MAIS
Família em Juruti gera renda e empregos após substituir fogo por sistema agroflorestal e restauração
De cada 4 hectares desmatados no Brasil, 1 está no Pará