Nos últimos anos, a demanda pelo óleo de patauá tem crescido devido aos seus benefícios para a pele e os cabelos. Esse aumento trouxe melhorias para os extratores e chamou a atenção para as condições de trabalho e a sustentabilidade da cadeia de produção. O óleo é mais um dos tesouros da biodiversidade paraense e a sua extração mantém a floresta em pé, já que segue práticas de manejo responsáveis. Isso inclui o respeito aos ciclos naturais da palmeira, evitando a exploração excessiva e promovendo a regeneração da espécie.
Em Anajás, na Ilha do Marajó, algumas marcas que utilizam o óleo em seus produtos, como L’Occitane au Brésil, Beraca Ingredientes Naturais e Simple Organic, uniram-se e criaram um fundo com mais de R$ 150 mil para reformar as casas de óleo da Associação dos Produtores Rurais do Rio Guajará Natureza é Vida (APRUNAV).
O projeto teve início em 2019 com o objetivo de atender às necessidades da comunidade, promovendo o desenvolvimento sociobioeconômico local e a conservação da floresta Amazônica. Através de doações financeiras, as marcas de beleza se envolveram na construção dos espaços para auxiliar na produção artesanal do patauá e fortalecer a economia local.
Casas de óleo artesanal
As casas de óleo artesanal foram uma demanda dos próprios produtores, que participaram de todo o processo de implementação do projeto, desde a seleção dos grupos beneficiados até o design arquitetônico das estruturas. Além do espaço físico, as famílias receberam insumos para a produção da substância.
Ao todo, 11 famílias da APRUNAV participaram dessa estratégia. As atividades contribuíram para fortalecer a cadeia de valor do patauá, promovendo o desenvolvimento econômico das famílias extrativistas por meio de práticas sustentáveis de produção florestal e impulsionando economias florestais de baixa emissão de carbono para enfrentar as mudanças climáticas.
O patauá é a segunda cadeia de valor florestal mais importante para a economia da APRUNAV e Anajás. As novas estruturas foram implementadas para melhorar a qualidade do produto, assim como as condições de armazenamento e trabalho na produção do óleo.
“A gente fez uma oficina de boas práticas de manejo pensando em um planejamento de produção, na melhor forma de fazer a colheita e em como padronizar esse processo. O açaí por exemplo tem gente que deixa meia hora de molho, tem gente que deixa mais, quem deixa menos. Para o óleo de patauá tentamos padronizar o processo já que isso influencia na qualidade dele”, disse Paula Vanessa Silva, coordenadora de Programas Socioambientais no Instituto Beraca.
Para a diretora executiva do instituto, Ana Carolina Vieira, olhar para a cadeia de valor do patauá é olhar para uma economia florestal de baixo carbono, que mantém a floresta em pé e valoriza o modo tradicional de produção extrativista da amazônia.
“A colheita do fruto acontece no período ideal, existe uma preocupação de manutenção de frutos. Além disso, o cuidado com frutos que podem ser coletados, frutos que devem permanecer no solo da floresta para reprodução da espécie, e frutos que vão servir de alimento para animais silvestres”, comentou a diretora.
Além do aumento da renda, a atividade também impulsionou a transformação do trabalho de várias famílias na região. Muitas delas migraram da produção de palmito para a produção de óleo de patauá.
“Quando trabalhamos só tirando e não plantando estamos gerando fome. Com o trabalho da extração do óleo de patauá estamos garantindo o futuro das pessoas que ainda estão vindo e temos a certeza de que essa atividade ficará para sempre”, disse José Maria de Souza Mendonça, fundador e presidente da Associação dos Produtores Rurais do Rio Guajará Natureza é Vida (APRUNAV) em entrevista ao Ecoa.