O Pará, mais 15 estados e o Distrito Federal estão enfrentando o período de seca mais severa para os meses de maio a agosto desde 1980 no Brasil, aponta levantamento do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) feito a pedido do G1. Segundo o estudo, mais de 3,8 mil cidades estão classificadas com algum nível de seca, que varia de fraca a extrema.
A situação se agravou no último mês no Pará, onde em julho havia apenas o município de São Geraldo do Araguaia, no sudeste do estado, com seca extrema. Agora o fenômeno mais intenso atinge também Santana do Araguaia, Cumaru do Norte, Santa Maria das Barreiras, Bannach, Xinguara, Sapucaia, Água Azul do Norte, Piçarra e São Domingos do Araguaia, alcançando assim 10 cidades.
Além disso, a situação de seca severa atinge atualmente 26 municípios no Pará. São eles: Itaituba, Novo Progresso, Jacareacanga, Trairão, Uruará, Vitória do Xingu, São Félix do Xingu, Ourilândia do Norte, Tucumã, Parauapebas, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Marabá, Itupiranga, Nova Ipixuna, Bom Jesus do Tocantins, Jacundá, Rondon do Pará, Goianésia do Pará, Dom Eliseu, Abel Figueiredo, Floresta do Araguaia, Pau D’Arco, Redenção e Conceição do Araguaia.
“A gente nunca tinha visto de forma tão expandida pelo país, fora dos estados do semiárido, uma seca tão longa. Já são 12 meses de duração. Isso é um cenário muito preocupante”, afirma a pesquisadora Ana Paula Cunha, do Cemaden.
Os cenários de seca ficaram mais frequentes no Brasil desde junho de 2023, quando teve início o El Niño com efeito direto sobre a redução do índice de chuvas, provocando a pior seca dos últimos anos na Amazônia. Após o fim do fenômeno a expectativa era de melhora, porém o aquecimento das águas do Atlântico Norte fez com que o regime de chuvas continuasse alterado e o problema deve perdurar, segundo as previsões mais otimistas, até o final de outubro.
Impactos econômicos e ambientais
Com o prolongamento da seca, os impactos sentidos pela população e pelas atividades econômicas devem ser ainda mais intensos. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), os prejuízos para a agropecuária da região ultrapassam R$ 1,3 bilhão. Já a hidróloga do Cemaden, Adriana Cuertas, ressalta que a estiagem reflete no esgotamento do lençol freático e dificulta a recuperação dos rios no curto prazo.
“Esses ciclos de seca são preocupantes para as bacias. O rio sobrevive com a água do lençol freático, que passa abaixo dele. Se não tem chuva, esse lençol não é alimentado e com tanto tempo sem repor água, isso dificulta a recuperação. Já estamos vendo rios menores, de cabeceiras, desaparecerem com o tempo em alguns pontos”, avalia a pesquisadora.
As previsões meteorológicas apontam que um evento La Niña, que tende a aumentar o volume de chuvas na região, pode iniciar até o final do ano. No entanto, Ana Paula Cunha acredita que em condições normais o fenômeno não será suficiente para recuperar completamente a Amazônia da seca.
“Quanto mais tempo esse cenário durar, mais impactos ele causa, mas mais que isso, é mais difícil ainda de recuperar. A situação é tão grave que é preciso ciclos de chuva acima da média para ajudar a amenizar e isso não vai acontecer no próximo ciclo. Não vai ser o suficiente”