O Pará passa atualmente pelo inverno amazônico, mas os impactos da última seca ainda são sentidos por muitas comunidades. Na região da Terra do Meio, em Altamira, esse período deveria ser de coleta e venda da castanha, mas devido à longa estação seca do ano passado as árvores não deram frutos ou a safra foi menor do que o normal. Com isso, a economia das populações tradicionais está abalada.
Normalmente, de dezembro a maio é o período em que os ouriços caem das castanheiras, mas dessa vez a safra foi a menor que já se viu, segundo os produtores da região. A queda de produção associada aos eventos extremos frequentes também está impactando nas atividades de colheita realizadas por povos indígenas e ribeirinhos.
“A baixa da safra da castanha faz parte da sazonalidade da espécie. A questão é que esse ano deve ser a menor desde que estamos acompanhando. E é esse também o relato dos extrativistas”, explica Jeferson Straatmann, analista sênior em economia da sociobiodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA).
Produção em queda
Ribeirinhos, indígenas e extrativistas da Terra do Meio também afirmam que a produção da castanha vem caindo ano a ano, mas não é o único produto afetado. Na Reserva Extrativista (Resex) Riozinho do Anfrísio,a seca também provocou perdas nas roças e na produção de cacau. Além disso, o clima mais seco fez com que áreas que não pegavam fogo agora se tornassem inflamáveis.
Em 2024, o rio Xingu e o rio Iriri tiveram situação de escassez hídrica declarada pela Agência Nacional de Águas (ANA). O problema afetou o abastecimento e o transporte, principalmente das comunidades das Resex – Rio Iriri, Riozinho do Anfrísio e Rio Xingu, que precisaram receber doações de cestas básicas.
A alternativa encontrada para enfrentar o desabastecimento e manter a economia local é fortalecer o projeto da Rede de Cantinas, em que as comunidades se organizam para comercializar os produtos da floresta a preços mais justos e valorizados junto às empresas.
Com a falta de castanha, o foco será direcionado para a aquisição de produtos não perecíveis, farinha e óleo de babaçu. Somente em 2024, a Rede de Cantinas movimentou cerca de R$ 2 milhões na região, sendo que R$ 500 mil eram provenientes do comércio de castanha.