Os impactos da seca extrema que afetou a Amazônia em 2023 ainda são sentidos por comunidades do interior da região. Enquanto as populações se recuperam, autoridades e pesquisadores já alertam que o fenômeno deste ano pode ser ainda pior e contribuir para um ciclo de estiagem que afeta todo o Brasil. As informações são do portal G1.
A principal causa para uma previsão tão pessimista é o fato de que o volume de chuvas registrado no inverno amazônico que está se encerrando foi abaixo do esperado. Com isso, rios importantes, como o Tapajós no Pará, e o Purus, o Solimões e o Negro, no Amazonas, continuam com níveis baixos, o que já prejudica a alimentação, o abastecimento e o transporte em comunidades da região.
A Defesa Civil de Santarém, oeste do Pará, antecipou o planejamento de prevenção e já iniciou a coleta de dados em várias comunidades para manter as informações atualizadas sobre o Tapajós, que está 94 centímetros (quatro centímentros a menos que o verificado no final de maio) abaixo do registrado no mesmo período do ano passado.
Aliado a isso, o El Niño, que aumentou a temperatura das águas do Oceano Pacífico e fez reduzir a formação de chuvas e aumentar a média de temperatura, combinado com o fenômeno de aquecimento do Atlântico Tropical Norte, que fica acima da linha do Equador, também inibiu a formação de nuvens e ajudou a reduzir o volume de chuvas na Amazônia.
“A estação chuvosa, que deveria estar acabando agora, foi muito baixa. De forma geral, vimos chover menos do que 5% do que deveria acontecer. Tivemos os níveis mais baixos registrados até então”, afirma Renato Cruz Senna, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A esperança é que a chegada da La Niña, que provoca mais chuvas na região devido ao resfriamento da faixa Equatorial Central e Centro-Leste do Oceano Pacífico, ajude a bacia hidrográfica do Amazonas a se recuperar. No entanto, o cenário ainda é incerto e o que está evidente é que há um crescimento do número de áreas impactadas.
Levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), mostra que a seca extrema atingiu 1 município em junho de 2023 e chegou a 82 neste ano. Além disso, o número de municípios afetados por seca severa passou de 44 para 735. No Pará, as áreas com maior gravidade estão localizadas nas regiões sudoeste e sudeste do estado. A porção oeste está classificada como seca fraca, enquanto a maior parte aparece com seca moderada.
De acordo com especialistas, caso a estiagem permaneça de forma intensa, é esperado que ela se alastre pelo Brasil. Isso porque a umidade que a Amazônia recebe do oceano pela Foz do Amazonas circula pela região e empurra o ar úmido para o restante do País. Se houver uma alteração nesse ciclo, ocorre um efeito cascata com seca generalizada pelo Brasil, o que favorece a propagação do fogo e queimadas, Estudo do MapBiomas, por exemplo, comprova que as ocorrências de queimadas aumentaram nos últimos 40 anos e consumiram quase 25% do território brasileiro.
O monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que o número de focos de incêndio no Brasil já é o maior em 10 anos. Uma das regiões afetadas é o Pantanal, onde a área alagada recuou 61% no ano passado elevando os riscos de queimadas em razão do clima mais seco.
“A seca está tomando o País e vem pior do que o ano passado. Isso significa fogo em várias áreas do território, falta de chuva e impacto no abastecimento. O nosso sistema é interligado”, alerta Ana Paula Cunha, especialista em secas no Cemaden.