Secas prolongadas e graves, como a que o Pará vivencia pelo segundo ano consecutivo, devem se tornar frequentes e afetar três em cada quatro pessoas em todo o mundo. De acordo com o Atlas Mundial da Seca, lançado durante a COP16 do Combate à Desertificação, que ocorre esta semana na Arábia Saudita, este será o cenário até 2050, caso não sejam adotadas medidas para frear ou mitigar o problema.
O documento revela que as emissões de gases de efeito estufa advindas da atividade industrial são a principal causa do aumento da seca no planeta. Há 30 anos, em 1990, o problema atingia um a cada cinco indivíduos e, na atualidade, já chega a uma em cada três pessoas.
“As atividades humanas estão impulsionando ou exacerbando as secas e seus impactos na sociedade. Isso é claramente descrito no Atlas, e com base na literatura científica e usando exemplos de todo o mundo”, afirmou ao Um Só Planeta a pesquisadora Marthe Wens.
Apesar das projeções negativas, o Atlas enumera uma série de medidas e caminhos concretos que podem contribuir para reduzir e adaptar as diversas comunidades aos impactos das estiagens severas que refletem também na produção de energia, na agricultura, no transporte fluvial e no comércio.
As recomendações incluem políticas de governança, com criação de sistemas de alerta precoce, seguro para pequenos agricultores e esquemas de preços para uso da água; gestão do uso da terra, com incentivo à restauração de terras e à agroflorestas; e a gestão do fornecimento e uso da água, promovendo sistemas de reutilização de águas e conservação de águas subterrâneas.
“Por meio de nossa gestão da terra e da água, temos a capacidade de reduzir os impactos da seca e aumentar a resiliência de nossos sistemas”, reforça Marthe Wens.
Situação de emergência em 96 municípios
No Pará, o monitoramento da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) aponta que a falta de chuvas fez avançar a seca de moderada para grave na porção norte do estado e de fraca para moderada nos municípios da região nordeste. Segundo a agência, os impactos nessas áreas são de curto prazo, mas podem se estender no norte em razão da situação mais crítica.
Somente neste ano, 56 municípios paraenses estão com situação de emergência decretada devido à estiagem. Os casos mais recentes foram em Nova Esperança do Piriá, Novo Repartimento, Acará e Mocajuba, todos no nordeste do estado,
Além disso, o governo federal reconheceu também a emergência em 38 cidades em razão das queimadas, um por chuvas intensas e um por vendaval, totalizando 96 municípios que estão autorizados a solicitar recursos extraordinários para ações de defesa civil. No início de dezembro, por exemplo, foram liberados mais de R$ 5,7 milhões para seis cidades que já tinham o reconhecimento da crise no âmbito federal.