Um megaempreendimento instalado no bairro do Tapanã, em Belém, pretende colocar a capital paraense na rota da industrial mineral brasileira. Com capacidade de processar cerca de 25% de toda a produção de ouro do País, a refinaria North Star já obteve licença ambiental para suas operações. Porém, antes de entrar em atividade, as relações do negócio com o comércio ilegal começaram a vir à tona em apuração da Repórter Brasil.
A reportagem revela que os principais investidores da empresa são pessoas físicas e jurídicas com histórico de denúncias e condenações. É o caso do empresário Sylvain Goetz, que controla 15% das ações da North Star, e já foi condenado na Bélgica por comércio ilegal de ouro.
Já seu irmão, Alain Goetz, tem ligações com a 24 Gold, que detém 35% das ações da refinaria. A companhia seria administrada no Brasil por um sobrinho de Sylvain, e, apesar de não constar entre os sócios da 24 Gold nos documentos da refinaria de Belém informados à Junta Comercial do Estado do Pará, Alain aparece em foto de divulgação de um evento que marcou o início de outro empreendimento da empresa, em outubro de 2020, na cidade de Dubai, diz a reportagem.
O empresário também foi condenado na Bélgica pelas mesmas práticas do irmão, além de ter recebido sanções do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos por contrabando ilegal e compra de ouro de grupos armados da República Democrática do Congo. Com isso, empresas americanas estão proibidas de fazer negócios com firmas que tenham sua participação, sob pena de responsabilização civil e criminal.
Juntos, os irmãos Goetz já foram multados em mais de €$ 558 milhões – equivalente a R$ 3 bilhões – e tiveram €$ 3,2 bilhões confiscados da empresa da família Tony Goetz NV. As investigações da organização The Sentry mostram que os empreendimentos familiares em diversas partes do mundo serviriam para ocultar a origem ilegal do ouro.
A participação de brasileiros no negócio também é alvo da reportagem. Mauricio Gaioti e Andressa Soares aparecem, respectivamente, como presidente e vice-presidente da North Star, apesar de sua empresa, a Omex Comércio e Exportação de Metais Preciosos S.A., possuir apenas 0,34% das ações.
O pai de Andressa é o ex-prefeito de Itaituba, Roselito Soares, que já foi sócio da Omex e que registrou no Brasil a Maison Prime, originalmente sediada em Dubai. A empresa tinha participação na North Star, mas vendeu as ações, abrindo caminho para a entrada da 24 Gold.
Além disso, a família Soares é fundadora da Ourominas, uma das principais negociadoras do minério no Brasil, mas que já foi denunciada pelo Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA) por comprar mais de uma tonelada de ouro com procedência irregular no sudoeste do Pará.
A Repórter Brasil evidencia que a procedência legal da grande quantidade de ouro que será processada na refinaria em Belém também é desconhecida. Segundo a reportagem, entre as fornecedoras estariam a Gana Gold, que já foi alvo de três operações da Polícia Federal por lavagem de dinheiro e compra de ouro ilegal; a Belo Sun, que tenta construir uma mina a céu aberto na Volta Grande do Xingu; e a Serabi, que teria extraído minério da Terra Indígena do Baú, de acordo com denúncias das ONG’s Unearthed e Greenpeace.
A reportagem tentou contato com Alain Goetz, Maurício Gaioti, a Gana Gold e a Belo Sun, mas não obteve retorno. Os advogados de Sylvian Goetz disseram que ele não mantém negócios com o irmão e que está vendendo suas ações na North Star.
Por sua vez, a Ourominas informou que Roselito Soares não tem participação na empresa e que o caso investigado pelo MPF segue em tramitação na Justiça Federal. Já a Serabi disse que nunca pretendeu extrair ouro de reserva indígena e que possui um acordo com os povos da região, garantindo a não interferências nas terras indígenas.