Mesmo com o cerco contra o garimpo ilegal se fechando, revendedoras de grandes marcas como Hyundai, John Deere e Caterpillar continuam vendendendo escavadeiras em Itaituba , a chamada “cidade pepita” localizada no sudoeste do Pará, mostra a Repórter Brasil. Lojas com os próprios equipamentos, peças de reposição e oficinas mecânicas se espalham pela BR-230, a Transamazônica, no entorno da cidade, considerada um dos epicentros da atividade ilícita na Amazônia.
Não é à toa que os criminosos compram essas máquinas. O uso de maquinário pesado eleva a produtividade do garimpo na Amazônia. Uma escavadeira realiza em 24 horas o mesmo trabalho que 3 homens levariam cerca de 40 dias para executar. O investimento criminoso, portanto, compensa.
Em abril do ano passado, o relatório “Parem as máquinas! Amazônia Livre de Garimpo”, lançado pelo Greenpeace, mostrou como o garimpo estava utilizando equipamentos avançados, como escavadeiras hidráulicas, para a exploração ilegal de minérios em Terras Indígenas. Só nos territórios Yanomami, Kayapó e Munduruku, houve o registro de 176 equipamentos do tipo entre os anos de 2021 e 2023, a maior parte (75) da marca Hyundai HCE Brasil.
O ICMBio estima que somente neste ano já destruiu 40 escavadeiras. No ano passado, o órgão inutilizou 83 máquinas pesadas usadas na mineração ilegal em 12 Unidades de Conservação na bacia do Tapajós.
“A garimpagem está muito mecanizada, são escavadeiras com um poder de destruição incrível. O tanto de maquinário que foi destruído, imagina o que essas empresas estão lucrando”, ressalta Ronilson Vasconcelos, coordenador da Unidade Especial Avançada do ICMBio em Itaituba.
Além da invasão de UCs e TIs, o garimpo ilegal afeta diretamente a saúde dos indígenas. À espera da homologação da expansão do território, indígenas Munduruku da Terra Sawré Maybu, entre Trairão e Itaituba, sofrem com a pressão dos criminosos e também com o mercúrio usado na procura por ouro. Pesquisa da Fiocruz encontrou níveis alarmantes do metal nos rios da região.
Lideranças indígenas afirmam que, apesar das medidas adotadas pelo governo Lula, os Povos continuam ameaçados pela violência, o garimpo, a fome e doenças. A queixa foi apresentada na reunião do Mecanismo de Especialistas da ONU sobre Direitos dos Povos Indígenas, em Genebra, na Suíça.