Este Dia Mundial da Água, 22 de março, serve para conscientizar o mundo sobre a importância deste recurso natural imprescindível à vida. O fluxo da água que cai do céu depende de vários fatores, especialmente da quantidade de árvores que temos plantadas no chão e do aquecimento global. Você sabia, por exemplo, que cada árvore de dez metros de diâmetro joga até 300 litros de água por dia na atmosfera? E mais: que a floresta amazônica é responsável pela evapotranspiração de 20 trilhões de litros de água por dia?
É uma bomba d’água de alta potência, como comparou André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, ao jornal “O Globo” nesta terça.
Só que o desmatamento no bioma está alterando esse volume de água tão necessária à agricultura brasileira como um todo, além de trazer problemas de saúde à vida humana. Além disso, o Brasil sofre com outro fenômeno: estamos sendo fritados. De acordo com comunicado da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado em janeiro, os últimos seis anos foram os mais quentes registrados desde 1880, sendo 2016, 2019 e 2020 os três mais abrasadores.
Essas alterações estão aí para qualquer paraense ver. O físico Paulo Artaxo, pesquisador de mudanças climáticas ligado à Universidade de São Paulo (USP), chama atenção para o que tem ocorrido em Santarém.
“Com o desmatamento da Amazônia e as mudanças climáticas globais, o ciclo hidrológico da Amazônia está tendo fortes mudanças, está caindo a precipitação na região de Santarém e em várias outras regiões do Pará. O aumento da temperatura, que em algumas regiões da parte Leste da Amazônia atinge 2.2, 2.3 graus, aumenta a evapotranspiração, alterando todo o ciclo da água, nesta região crítica da Amazônia”, afirmou ele ao Pará Terra Boa.
Mas o paraense pode pensar: “ah, o que não falta é água em nosso Estado, pois temos rios e muitas árvores cobrindo nosso Pará”. Certo, mas para sempre? Não.
“E esta região mostra vulnerabilidades muito importantes do ponto de vista de recursos hídricos, então, o fato de nós termos muita água na região amazônica hoje pode não ser verdade daqui a algumas décadas”, acrescenta o pesquisador.
O que precisa ser feito para ontem, explica Artaxo, é frear o desmatamento hoje, agora.
“Portanto a melhor ação para a gente garantir a manutenção dos recursos hídricos na Amazônia, e inclusive no Pará, é reduzirmos a zero o desmatamento como comprometido pelo Governo Federal até 2028, que é somente daqui a seis anos. Temos de zerar o desmatamento da Amazônia e implantar um novo modelo agrícola e de desenvolvimento para o bioma, não mais baseado no desmatamento e na destruição do ecossistema amazônico, mas, na verdade, baseado na preservação e na exploração dos vastos recursos econômicos que a floresta amazônica possui”, defende.
A ciência está aí para comprovar que o padrão de chuvas no Brasil já mudou. Pesquisadores chegaram à conclusão de que a desregulação dessa bênção divina está aí: aumento dos períodos de seca e excesso de chuvas concentrado em outras. Mas, praticamente, todo o País tem uma tendência de redução do volume que cai sobre o solo, segundo o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). E o pior: o desmatamento na Amazônia afeta o clima de todo o Brasil.
“Nos próximos anos, a gente vai continuar numa situação de ter anos melhores e piores, mas vão provavelmente prevalecer os anos piores. Essa tendência não vai se reverter, pode até se estabilizar, mas não há uma tendência de voltarmos a ter chuvas iguais a décadas atrás. Na média geral, o Brasil tem de estar cada vez mais preparado para os extremos de chuvas, porque é isso que nos espera daqui para frente”, alertou Seluchi, com base em análise de uma série histórica dos últimos 60 anos, ao jornal “O Globo”.
O metereologista também relata como o aquecimento da Terra pode explicar as fortes chuvas que caíram em Petrópolis e Bahia neste início de ano. Isso porque a atmosfera está mais quente. “A quantidade de água suspensa na atmosfera hoje é maior do que tínhamos séculos atrás. Ou seja, o mesmo fenômeno meteorológico hoje consegue provocar mais chuvas que anos atrás”, disse o pesquisador ao jornal.
Com mais calor, as árvores precisam de mais água para permanecerem de pé.
“Existe principalmente uma mudança de distribuição de chuvas. A chuva está chegando cada vez mais tarde e acabando cada vez mais cedo. O produtor acaba tendo que plantar mais tarde, prejudicando a produtividade. E não adianta chover o mesmo volume se a planta e o solo ficam com mais sede”, disse Ludmila Rattis, pesquisadora do Woodwell Climate Research Center e do Ipam, à publicação.
LEIA TAMBÉM:
Dia Mundial da Água reflete situação precária de saneamento em 3 municípios no Pará
Rios contaminados ferem orgulho do paraense no Dia Mundial da Água