A pecuária é um dos setores de destaque na economia paraense. Mas além de um grande volume de riquezas, essa atividade ainda mantém um histórico marcado pela degradação ambiental e a violação de direitos. Uma recente pesquisa da Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento (PADF) reforça essa realidade crítica. Segundo o estudo, entre 1.241 trabalhadores entrevistados na região de Marabá, Ulianópolis e Itupiranga, no sudeste paraense, 31,82% afirmou já ter sido vítima de trabalho análogo à escravidão nos últimos dois anos.
Com o segundo maior rebanho bovino do Brasil, o Pará lidera o número de resgates de trabalhadores em situações análogas à escravidão desde 1995. As denúncias envolvem uma série de violações, como condições degradantes, retenção de salários, jornadas exaustivas e até abuso sexual e servidão por dívida.
O impacto do problema é ainda mais grave porque a maioria dos afetados são migrantes, especialmente do Maranhão (66%) e que tem perfil de maior vulnerabilidade social, como pretos e pardos, que foram 89% dos entrevistados. De acordo com os dados do estudo, entre esses trabalhadores era comum acumular mais de 12 horas de jornada diária, sem equipamentos de proteção, em condições insalubres e receber salários de até R$ 1.250 mensais, abaixo do salário mínimo.
Além disso, esses trabalhadores convivem com uma série de riscos e prejuízos. Entre eles, os perigos mais frequentes são lidar com o gado e pastagem (72%), derrubar árvores (32%) e manusear veneno ou enfrentar animais peçonhentos (23%). O estudo aponta, por exemplo, que 35% dos entrevistados contraíram doenças graves no trabalho e 38% sofreram acidentes, muitos dos quais não foram sequer registrados.
Outros dados apontam para a relação com problemas ainda mais graves. Entre os entrevistados, 54% disse que começou a trabalhar na pecuária entre os 10 e 17 anos, e 12% ingressaram ainda antes dos 10 anos. Isso significa que a atividade tem exposto jovens e adultos a um ciclo de exploração em condições de trabalho abusivas e sem acesso a direitos básicos.
Por essas razões, os principais desejos desses trabalhadores são assistência médica profissional (82,84%), atendimento odontológico (73,01%), moradia e auxílio sustento (59,47%), treinamento profissional (56,24%) e assistência jurídica (51%).
Para combater esse problema, a PADF sugere uma série de medidas a serem adotadas, envolvendo a divulgação de conhecimento sobre a legislação trabalhista para proprietários de fazendas, oferta de assistência jurídica gratuita, ampliação dos serviços de saúde, segurança e meio ambiente ocupacional, fortalecimento das ações de inspeções regulares e criação de certificação para fazendas com condições éticas de trabalho.