A criação de gado aliada à produção de soja, arroz, citrus, dendê, entre outras culturas agrícolas foram responsáveis por uma grande transformação na paisagem da Amazônia. De acordo com o novo estudo do Mapbiomas divulgado nesta sexta-feira, 6, a expansão da agropecuária na região foi de 417% entre 1985 e 2023, saltando de uma área de 12,7 milhões de hectares para 66 milhões de hectares. Este é o maior crescimento percentual na comparação com todos os biomas brasileiros.
Desse total, 59 milhões de hectares são ocupados por pastagens, o que equivale a 36% de todas as áreas de pecuária do país. Os demais usos se dividem entre a soja (5,9 milhões de hectares), lavouras temporárias (1,1 milhão de hectares), silvicultura (360 mil hectares), dendê (186 mil hectares), cana-de-açúcar (90 mil hectares), algodão (6,7 mil hectares) e arroz (2,5 mil hectares).
Os dados da pesquisa revelam que o período com maior abertura de pastagens na Amazônia foi entre 1985 e 2003. No intervalo de 2004 e 2014, houve uma queda, enquanto que desde 2015 ocorre uma retomada desse movimento, atingindo principalmente as regiões dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, conhecidas como AMACRO.
No contexto atual, os pesquisadores indicam que há uma tendência de aumento na conversão de áreas de pastagem para outros usos. Na Amazônia, cerca de 40% da conversão das pastagens ocorreu nos últimos 10 anos, explorando culturas como a da soja e outras com possibilidade de mais de um cultivo por ano. O problema, segundo o estudo, é que essas áreas estão mais vulneráveis às alterações provocadas pela crise do clima.
“Nessas regiões, em especial, as mudanças climáticas em curso, com aumento da temperatura e redução da chuva, podem impactar consideravelmente a produção no futuro próximo, até inviabilizando um segundo ciclo”, comenta o professor Eliseu Weber, que integra o grupo de coordenadores de Agricultura do MapBiomas.
Por outro lado, as análises mostram que as pastagens convertidas para outros usos nos últimos 23 anos tiveram melhora nas suas condições de vigor e produziram mais biomassa, sendo que o maior quantitativo foi detectado na Amazônia, com 25 toneladas por hectare. Para o professor Laerte Ferreira, coordenador da equipe de pastagem do MapBiomas, os números apontam para o potencial de intensificação sustentável da pecuária.
“Esse dado é de fundamental importância para se avaliar a capacidade de suporte das nossas pastagens, com vistas a adoção de práticas de manejo mais eficientes e sustentáveis no âmbito da atividade pecuária no Brasil”, destaca o pesquisador.