Criminosos seguem manchando a imagem do agro brasileiro mundo afora. Um novo relatório da agência de notícias Repórter Brasil revela como documentos usados pelos frigoríficos para bloquear compras de bois ligados ao desmatamento ou trabalho escravo são facilmente adulterados, inclusive com a participação de funcionários públicos.
Isso ameaça o compromisso de gigantes do setor em garantir que, até o fim da década, nem um gado proveniente de áreas desmatadas será comprado.
O relatório Monitor 16 – De Olhos Fechados Para o Desmatamento investigou irregularidades na fiscalização da origem do gado que chega aos grandes frigoríficos brasileiros, como JBS, Marfrig e Minerva.
O resultado é que o rastreamento da cadeia produtiva do gado se revelou sujeito a todo tipo de fraudes, o que dificulta o monitoramento dos fornecedores, principalmente os indiretos. As violações vão desde esquemas para burlar os sistemas de controle dos frigoríficos até golpes envolvendo servidores públicos e hackers, que atuam de forma criminosa para apagar dos registros oficiais dados como as multas ambientais de fazendas fornecedoras.
O triste é que esses mesmos frigoríficos brasileiros anunciaram planos para garantir que, até o fim da década, não iriam comprar um gado sequer de áreas desmatadas. Para isso, JBS, Marfrig e Minerva vêm investindo em ferramentas para monitorar a origem dos bois, incluindo tecnologias inovadoras que, em breve, permitirão o monitoramento ambiental dos seus fornecedores indiretos.
Alguns dos esquemas ilegais envolvem quadrilhas como a identificada na Operação Tokens, da Polícia Federal, em 2020. Os criminosos falsificavam certificados digitais (tokens) de funcionários do Ibama. Feito isso, acessavam os sistemas eletrônicos do órgão para desembargar, de forma clandestina, áreas interditadas na Amazônia por crimes como desmatamento ilegal.
Também no ano passado, a Operação Fake Bois, deflagrada pela Polícia Civil do Acre, revelou outro lado da fragilidade no monitoramento da pecuária: a participação de servidores públicos em esquemas de corrupção para mascarar o trânsito de gado de origem desconhecida.
A fraude ocorria por meio de adulterações nas Guias de Trânsito Animal (GTAs) – documentos obrigatórios para acompanhar o transporte do gado entre fazendas ou para o abate. Segundo as investigações, por anos um ex-servidor inseriu informações falsas no sistema responsável pela emissão destes documentos. Desde 2018, haviam sido detectadas 135 inserções falsas e ao menos 30 fazendas entre as áreas possivelmente beneficiadas.
Fonte: Repórter Brasil