O Pará Terra Boa aproveita a recente sinalização de pecuaristas sensíveis à destruição do nosso ganha-pão, a floresta, para reforçar a importância de manejos sustentáveis no setor. Historicamente, o Pará sempre esteve nas primeiras posições do ranking de desmatamento da Amazônia: 90% da área desmatada no bioma nas últimas três décadas foi convertida em pasto. Além disso, a criação de bovinos de corte é também uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil.
Parte do setor pecuário paraense está preocupada com esses dados, seja por razões comerciais ou ambientais. Tanto que pecuaristas e entidades paraenses envolvidas com a cadeia de produtos de origem bovina no Estado lançaram, no dia 27/04, um manifesto contra o desmatamento ilegal na atividade no Pará. No documento, as entidades se comprometeram a apoiar o governo estadual na aceleração dos processos de regularização fundiária e ambiental, na realização da pesquisa para a intensificação da produção pecuária e no combate ao desmatamento.
O paraense sabe que o Estado possui o terceiro maior rebanho bovino do Brasil, com 22,3 milhões de cabeças de gado. Em todo País, são cerca de 218 milhões, segundo o IBGE. O município líder nacional em cabeças continua sendo São Félix do Xingu (PA), com um total de quase 2,5 milhões, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC).
A seguir, os manejos mais recomendados por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woodwell Climate Research Center.
Sistema rotacionado
A estratégia tem três etapas: recuperar ou renovar o pasto, melhorando a qualidade da pastagem; subdividir a área em vários pastos menores, com piquetes; e implantar áreas de lazer para o gado, com cochos para suplementação e bebedouros.
Ao alternar os animais entre esses novos espaços, o solo se recupera, o gado aproveita melhor o pasto disponível e tende a ganhar mais peso e de maneira mais rápida. Ao implementar os cochos e os bebedouros, o animal tem acesso à suplementação alimentar em períodos estratégicos, como em períodos secos, e à água de qualidade, uma vez que, ao acessar lagos e rios, os animais acabam pisoteando as margens e ingerindo água misturada com terra, urina e fezes – dessa forma, reduz-se o esforço dos animais, evitando que percam peso, ao mesmo tempo em que se protege as áreas de preservação permanente na margem dos corpos d’água (APP).
A rotação tende a aumentar significativamente a produção de carne por área, contribuindo para reduzir a idade em que o animal será abatido. Com a rotação e reforma de pastagem, aliada à suplementação alimentar, é possível triplicar e em alguns casos até quintuplicar a produtividade na mesma área, segundo verificou o Instituto Centro de Vida (ICV).
Gado confinado
Outro método de aumentar a produtividade sem expansão de novas áreas é a implementação dos sistemas de semiconfinamento e/ou confinamento, em que o animal pode ficar exclusivamente no cocho, com suplementação alimentar, ou intercalando momentos no cocho e no pasto.
A técnica começou a ser mais utilizada no País no início dos anos 2000. Por demandar mais investimento e conhecimento técnico, geralmente é mais usada por médios e grandes produtores.
O retorno, em compensação, é consistente. O confinamento ou semiconfinamento faz com que o animal ganhe peso mais rápido, resultando no abate mais jovem e com melhor acabamento de gordura – elemento cada vez mais valorizado pelo mercado. No entanto, é importante respeitar a biologia dos animais: colocar sombrites para diminuir a exposição do gado ao sol e a chuvas e molhar o rebanho em períodos mais quentes, entre outras medidas. Esses cuidados aumentam a eficiência do sistema produtivo e melhoram a qualidade do produto final.
Melhoramento genético
O processo consiste em selecionar animais com características que atendam aos critérios necessários para atingir determinado objetivo final. Podem ser animais que se destacam no rebanho por melhor peso na desmama, ganho de peso diário, precocidade, produção de leite ou carne.
Ao invés de ter dez vacas que produzem cinco litros de leite por dia, é possível ter o mesmo número de vacas, com o mesmo custo fixo e mão de obra, que produzam dez litros ao dia.
O investimento vale a pena. Inseminação artificial por tempo fixo, por exemplo, tem custo de R$ 100 a R$ 200 por vaca inseminada. Quando comparamos esse valor com o produto final – um bezerro com melhoramento genético pode custar R$ 3 mil -, podemos dizer que é um capital pequeno comparado ao que se recebe.
Ganha-ganha
Boas práticas de intensificação da pecuária ainda podem contribuir para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Esse fator é fundamental para a regulação do clima e para a manutenção das chuvas, por exemplo. Enquanto o sistema extensivo emite 79,4 kg de CO2e por quilograma de carne produzida, no método intensivo esse número diminui para 32 kg de CO2e por quilograma de carne – uma redução de 60% se comparado ao sistema tradicional.
Nas regiões de fronteira amazônica, o pastejo extensivo consiste na formação de pastagens sem nenhuma adubação ou correção do solo, dependendo unicamente da fertilidade natural.
O gado permanece no mesmo pasto o tempo todo, sem deixar tempo para a gramínea rebrotar. Os solos ácidos da Amazônia apresentam baixa concentração de nutrientes e nesse tipo de manejo há um decréscimo na produtividade da pastagem com o passar do tempo e até mesmo a degradação e a desvalorização da propriedade. O fósforo é o nutriente que apresenta o maior declínio com o aumento da idade da pastagem.
Já a principal característica dos sistemas de manejo semi-intensivo e intensivo é propiciar um período de descanso para a pastagem se recuperar da perda de matéria vegetal causada pelo pastejo. Este período de descanso é que vai proporcionar ao capim condições favoráveis de rebrota de suas folhas e raízes.
Embora com custo superior, comparativamente, o sistema semi-intensivo de manejo permite um melhor aproveitamento da disponibilidade de biomassa da pastagem, evitando os problemas decorrentes do sub-pastejo e do super-pastejo, e tem possibilitado aumentos da taxa de lotação anual média para 2,5 UA/ha. A principal vantagem é que, com este manejo, os pastos tendem a se perenizar, uma vez que o pastejo resulta na redistribuição uniforme de nutrientes, via esterco. O pastejo rotacional também reduz gradativamente a ocorrência de plantas invasoras nas pastagens, já que as mesmas são consequência de um processo inicial de degradação. Por consequência, o sistema de manejo rotacional semi-intensivo tende a reduzir quantidade de mão de obra nas roçadas.
Fonte: IPAM