Apesar de ocupar 64% da área agropecuária do Brasil — o equivalente a quase duas vezes o território do Amazonas —, a pecuária responde por apenas 17% do valor bruto da produção do setor. Para driblar a ineficiência e alavancar o setor só existe um caminho: aumentar a produtividade e reduzir os impactos ambientais da atividade. Isso se consegue com práticas sustentáveis.
Segundo estudo do projeto Amazônia 2030 divulgado na última semana, essa transformação exige políticas públicas bem direcionadas, crédito rural sustentável e controle do desmatamento.
“Nos últimos 23 anos, a expansão da pecuária revela que é possível aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, reduzir o desmatamento por meio de incentivos práticos e controle ambiental. No entanto, falhas nas políticas públicas e privadas têm impedido um avanço mais rápido, amplo e duradouro”, diz trecho da pesquisa.
A análise da expansão da atividade entre 2000 e 2023 mostra ainda que 64% das pastagens (105 milhões de hectares) apresentam qualidade baixa ou intermediária. Além disso, o setor foi responsável por 51% das emissões de gases de efeito estufa do País, principalmente devido ao desmatamento.
“Quase metade dos pastos estão degradados enquanto o desmatamento para pecuária continua. Diante da intensificação da crise climática, especialmente da redução das chuvas, as oportunidades para o aproveitamento produtivo de pastagens degradadas tendem a se reduzir drasticamente”, ressalta o documento.
Desmatamento é o maior vilão
Os pesquisadores destacaram que no período a pecuária brasileira passou por avanços importantes na produtividade, impulsionada por incentivos econômicos e pressões ambientais. Essa melhora, contudo, ainda esbarra no desmatamento.
Políticas como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e a Moratória da Soja reduziram o desmatamento em cerca de 80% entre 2003 e 2012, favorecendo práticas mais produtivas.
No entanto, o crescimento da atividade ainda pressiona a floresta: para cada hectare de pastagem reformado no Brasil, um hectare de floresta foi derrubado, e na Amazônia esse número sobe para 2,35 hectares. Em contrapartida, apenas 0,2% dos pastos degradados foram reformados.
Receita pra um setor mais sustentável
Apenas por meio de uma colaboração robusta e comprometida será possível mitigar os impactos ambientais da pecuária e desenvolver territórios onde ela ainda opera com baixa produtividade. Para começar, é preciso fortalecer o combate ao desmatamento e garantir a destinação correta de terras públicas.
Também é preciso condicionar o crédito rural a metas de produtividade e sustentabilidade, com assistência técnica para pequenos e médios produtores e direcionar infraestrutura e incentivos para áreas prioritárias, onde a recuperação de pastagens é mais viável.
De acordo com o projeto Amazônia 2030, outro ponto importante é ampliar a transparência na cadeia produtiva, garantindo rastreamento da origem do gado e maior comprometimento de frigoríficos e investidores com práticas sustentáveis.
“O aquecimento global segue leis físicas imutáveis: quanto maiores as emissões de gases do efeito estufa, mais rápidas e intensas serão as mudanças climáticas. Portanto, políticos e líderes empresariais não podem hesitar”, concluem os pesquisadores.
Fonte: André Garcia/Gigante 163
LEIA MAIS:
Sistema ILPF é recomendado para enfrentar ondas de calor no campo