O Pará Terra Boa conversou com o pecuarista Mauro Lúcio Costa, dono da Fazenda Marupiara, em Paragominas (PA). A propriedade de 25 anos tem 4.356 hectares, sendo que 80% dela é preservada.
Os números de sua produção impressionam: em 15 anos, sua produtividade média saltou de 170 quilos de carne por hectare para 1.009 quilos por hectare, enquanto a média hoje de pecuaristas locais é ainda de 120 quilos por hectare. Mas quando se considera a produtividade das áreas intensificadas, com maior nível tecnológico, o salto é ainda maior: a média do ano registrada em 2021 foi de 1.530 quilos de carne por hectare, embora o pecuarista tenha alcançado até 1.700 quilos.
Como isso é possível? Tratando bem o animal e as pessoas que trabalham na Marupiara. Mauro aplica lá o que se chama de bem-estar animal, em que o gado é tratado com conforto e mimos, tendo a tecnologia como aliada.
“O segredo está em tratar bem os animais e as pessoas, investindo em treinamento. Na alimentação do gado, sirvo sal mineral em local enxuto, diariamente. Plantamos aqui frutíferas, essências nativas, fazendo bosques separados e fechados porque as espécies nativas têm crescimento mais lento. Então, tem que fazer um mix porque há crescimentos diferentes. Temos de cuidar de animais, de aves, das pessoas. Mas a maior riqueza é a biodiversidade, a água e a biodiversidade. Duas coisas que priorizamos bastante”, contou ele à reportagem.
Mauro afirma ser seguidor do que chama de teoria da reciprocidade: quanto mais é dado para a natureza, mais ela devolve ao produtor. Da mesma forma ocorre com seus funcionários, ou seja, quanto mais capacitação ele recebe, mais ele devolve para a propriedade.
“Nesse sentimento do extrativismo descontrolado, todos nós vamos ficar pobres porque a natureza vai se degradar e eu não vou conseguir tirar mais nada dela. Da mesma forma, se eu quero tirar muito das pessoas, eu tenho que dar muito para elas. Quanto mais eu dou conhecimento, mais elas usam em meu negócio”, resume.
Ele lamenta o fato de hoje haver produtores que praticam o oposto. “É aquele pensamento equivocado de que, para eu ficar rico, você tem que ficar pobre. É uma riqueza pobre. Mas o correto é quanto mais você ganha, mais eu ganho também”, afirma.
Ambientalista x pecuarista
Ele ainda se diverte quando é chamado mais de ambientalista que de pecuarista. Ele afirma não se importar porque sabe que está no caminho certo, diferente daquele trilhado pelas geração de seu pai e avô.
“Meu avô desmatou a Mata Atlântica, o meu pai a floresta amazônica porque a intenção era de crescimento, geração de valor, emprego, de crescer não só como pessoa, mas como país. Na minha época, o que vivo hoje, é uma transição, uma transformação do processo produtivo. Preciso mudar esse processo, aumentar a produtividade, com eficiência”, diz.
Gestão da miséria
O salto, afirma, só é possível com investimento, ao contrário daqueles que acreditam pouco na tecnificação.
“É uma gestão da miséria, quando a pessoa tem sempre que gastar menos daquilo que produz, tirando muito mais do solo. Eles produzem pouco e não conseguem investir no negócio, acreditam pouco na tecnificacao. Ele entra num círculo ruim de baixa produtividade, fica gerindo miséria, entra num nível de extrativismo muito grande, da terra, do solo e das florestas, mas também social, porque não pode investir nas pessoas porque o negócio produz muito pouco”, justifica.
Influencer
Mauro Lúcio usa a tecnologia não somente para aumentar sua produtividade, mas também para mostrar o que faz na Marupiara a seus quase 6 mil seguidores no Instagram.