A publicação Fertilidade do solo em pastagem: como construir e monitorar, lançada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em dezembro de 2021, conscientiza técnicos e produtores rurais sobre a importância de se fazer o manejo adequado de um dos mais preciosos recursos naturais não renováveis do planeta – o próprio solo, essencial para a segurança alimentar global.
De forma simples, prática e ilustrada, a obra, registrada em março deste ano, mostra como tornar as pastagens mais sustentáveis e longevas, com estratégias de construção de solos férteis sob elas, elencando as formas diretas e indiretas de monitoramento dessa fertilidade, sem agredir o meio ambiente. O conteúdo todo do documento está no Portal Embrapa, com acesso livre ao público.
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“Manter o solo fértil no ecossistema de pastagem é mais complexo que em outros ecossistemas agrícolas, mas perfeitamente possível, começando pelo entendimento dos princípios biológicos que regem a construção e a manutenção dessa fertilidade”, afirma o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) Moacyr Bernardino Dias-Filho.
Ele é autor da publicação, juntamente à engenheira-agrônoma Monyck Jeane dos Santos Lopes, vinculada ao Museu Paraense Emílio Goeldi.
Matéria orgânica em foco
O valor da matéria orgânica em pastagens é bastante enfatizado. No primeiro tópico da obra já fica claro que pastagem produtiva é aquela que apresenta cobertura forrageira eficiente do solo, tendo alta capacidade de acumular matéria orgânica.
O ato de “construir a fertilidade do solo”, como os autores explicam, possibilita o acúmulo de nutrientes no solo, havendo mais entrada destes do que perdas.
“Mas além da ação direta com a adubação, para haver sustentabilidade é necessário fortalecer a base dessa construção, isto é, garantir o aumento do teor de matéria orgânica e a eficiência na ciclagem de nutrientes”, complementa o pesquisador.
Adubação e ciclagem
“A perda e carência natural de nutrientes do solo podem ser compensadas com aplicações de fertilizantes e corretivos, mas de forma responsável, racional e eficiente, sem risco de contaminação ambiental, em especial do lençol freático e cursos d’água”, diz a publicação.
A longevidade produtiva da pastagem, por outro lado, depende de uma eficiente ciclagem de nutrientes, conquistada com estratégias de manejo do pastejo e controle das plantas daninhas.
“A queima voluntária da pastagem, prática comum no Brasil até meados dos anos 1980, é desaconselhável por incentivar a perda da camada superficial do solo, desconstruindo a fertilidade”, ensina o pesquisador.
Na parte final da obra, os autores dão dicas de como monitorar a fertilidade do solo sob pastagem: de forma direta e indireta, complementares entre si. O monitoramento direto é feito por meio da coleta de solo e análises químicas em laboratório.
“Esse procedimento é imprescindível, pois detecta o estado do solo. Conforme o resultado, podemos implementar medidas de manejo, incluindo a adubação, antes que os problemas da queda de fertilidade se agravem”, orienta Dias-Filho.
A forma indireta de monitorar é subjetiva e depende da experiência prática do manejador, que, de acordo com recomendação da publicação, deve sistematicamente observar e interpretar os sinais visíveis característicos de queda de fertilidade e degradação de pastagem. “Esse tipo de monitoramento, pela relativa facilidade de condução, deve ser uma tarefa rotineira na propriedade rural”, recomendam os autores.
Cuidar das pastagens é garantia de lucro e preservação
O pecuarista Ubiratan Lessa Novelino Filho reconhece as vantagens de se investir na construção e manejo de pastagens para uma pecuária profissional e lucrativa. Ele é proprietário da Fazenda Madressilva, localizada no município de Benevides, na Região Metropolitana de Belém, e atua com recria e engorda de bezerros há cerca de 20 anos.
Segundo o pecuarista, a visão profissional de lidar com gado foi herdada do pai, que já atuava na atividade, e vem sendo aprimorada ao longo dos anos e para isso conta com a ajuda das pesquisas da Embrapa para seguir inovando e colhendo diversos benefícios.
Os benefícios econômicos são inegáveis, afirma Ubiratan, pois o manejo adequado do pasto garante alimento de qualidade aos animais, com engorda mais rápida e maior volume de carcaça.
“Nossos bezerros ganham até 700 gramas por dia enquanto a média das fazendas no Estado é de apenas 300 gramas”, comemora.
Mas a lista de vantagens não para por aí, nem a de boas práticas que utiliza na fazenda. O manejo das pastagens é anual e abrange, entre outras, adubação, controle de doenças e pragas e a cria rotacionada, com piquetes ou mangas como chamam os criadores, com módulos para 30 animais.
“Desta forma, o gado de alimenta de pastagem sempre fresca e nova fatores que influenciam em menor emissão de gases e proteção do meio ambiente”, garante o pecuarista.
Outro investimento que fez a diferença foi o plantio de árvores. A propriedade conta mais de 8 mil pés de mogno africano espalhados em 500 dos 900 hectares da fazenda. As árvores além de um investimento, fazem estoque de carbono, garantem conforto aos animais que retribuem em engorda mais eficiente, além de embelezar e valorizar a propriedade. “Investir nas pastagens pode parecer caro e trabalhoso, mas o retorno é certo e compensa economicamente e ambientalmente. Temos um produto diferenciado, com respeito ao meio ambiente. Só nos faltam políticas que valorizem essas práticas, mas ainda assim o lucro é garantido”, analisa.
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental