O Dia da Árvore é celebrado nesta terça, 20/09, junto ao Dia do Fazendeiro. Para marcar a data, o Pará Terra Boa traz a história de um fazendeiro residente em Paragominas (PA), mas nascido em Minas Gerais, que preserva à risca as árvores de sua propriedade, a Fazenda Marupiara, porque entende que desenvolvimento e preservação podem, e devem, caminhar juntos.
Mauro Lúcio Costa é personagem central da transformação pela qual passou Paragominas em 2008, passando de vilã do desmatamento, especialmente pela exploração desenfreada de madeira, a exemplo de respeito à legislação ambiental. Seu Mauro era, à época, presidente do Sindicato Rural do município. O pecuarista lembra que, antes de 2008, a cidade enfrentara, em 1995, um problema de destruição florestal muito mais grave.
“Em vez de falar que o problema não existia e colocar a culpa em alguém, resolvemos agir, resolver. Assumimos isso. Na minha gestão no sindicato, eu queria resolver essa questão trabalhista, escravagista. Daí veio a Arco de Fogo (operação realizada pela Polícia Federal, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Força Nacional de Segurança, contra o desmatamento ilegal na Amazônia), o TAC da Carne (Termo de Ajustamento de Conduta assinado entre frigoríficos e o Ministério Público Federal de não comprar gado para abate de áreas desmatadas ilegalmente, de terras indígenas, unidades de conservação e de empregadores na lista de trabalho escravo). A minha gestão acabou em 2014. Em 2015, não tínhamos as mesmas pressões, mas Paragominas já tinha virada essa página. Só que nunca deixou a questão ambiental de lado. Isso é da sociedade de Paragominas, de fazer bem feito no quesito ambiental”, conta o fazendeiro.
Mauro avalia que o Ministério Público Federal foi “muito inteligente” naquele ano de 2009 ao ter escalado os frigoríficos para fazer o monitoramento do próprio setor, no lugar de um agente externo, pelo cumprimento do TAC da Carne.
“O MPF foi eficiente naquele momento. O delegado disso aí era o frigorífico. Isso foi uma missão muito pesada para os frigoríficos, ser fiscal do fornecedor deles, mas era a coisa mais eficiente. O MP foi muito inteligente”, lembra.
Segundo o pecuarista, “ninguém melhor do que nós mesmos para fiscalizar porque quem entende disso somos nós mesmos”. Ele conta que enfrentou ainda o problema de denunciar gente do próprio setor, conhecida. “Não queria denunciar porque era um dos nossos, mas hoje é a coisa mais fácil, é só falar: ‘isso aí eu não compro'”.
Lavagem da boiada
A cadeia da carne enfrenta hoje um problema de imagem causado por produtores criminosos que vendem gado criado em áreas públicas roubadas, como unidades de conservação e territórios indígenas. Essa parte podre da pecuária falsifica documentação sobre a origem do gado e vende os bezerros criados em áreas desmatadas para os maiores frigoríficos do país.
A partir do momento em que o grande frigorífico compra esses bois e vacas sem exigir legalidade na transação, o gado ‘ganha’ uma nova documentação. É como se aquele gado tivesse nascido e sido criado numa área legalizada. Esse processo fraudulento e manjado já das autoridades é chamado de “lavagem da boiada”, prática recorrente até os dias de hoje. Só que o comprador internacional exige, cada vez mais, documentos que comprovem a origem legal daquele gado. Se houver ilegalidade, na maioria das vezes, ele não compra.
“É a mesma coisa que comprar de ladrão. É fora da lei. Aquilo que é ilegal é ilegal”, reforça Mauro.
O pecuarista conta que não há nada pior para um produtor rural do que um “não” de um comprador de carne.
“A maior punição não é a cadeia. É ter a produção e não conseguir vendê-la. Quando você perde uma safra, é difícil, mas você produz de novo. Agora, quando tem a produção e você não consegue vendê-la, é o pior dos mundos”, diz.
Mauro entende que é preciso haver união dos pecuaristas que respeitam a legislação para que a banda podre fique isolada.
“Só que essas poucas pessoas estão ganhando muito e fazendo pressão muito grande para continuar (na ilegalidade). Para esse cara ganhar, não existe almoço de graça: alguém tem que pagar essa conta. Quem paga sou eu e os outros pecuaristas. Se nós, desde 2009, já tivéssemos antenado para essa responsabilidade, e feito essa seleção, hoje estaríamos nadando de braçada”, afirma.
O dono da Marupiara simplifica a missão do agronegócio contra a ilegalidade do setor.
“Essa arma está na nossa mão. Quando entendo que comprar daquele cara vai fazer mal, por que eu vou estar sustentando uma pessoa que está acabando com meu negócio? Essa consciência tem que estar na gente”, reclama.
Agro mata a fome no mundo?
Para o pecuarista, é falsa a ideia que muitos produtores propagam de que o agronegócio precisa expandir mais porque, do contrário, o mundo vai passar fome. Como Mauro conhece quem fala e vende o slogan de que “o agro brasileiro alimenta o mundo”, ele tem outra visão. Para ele, o desmatamento desenfreado é resultado de uma grande “especulação imobiliária”.
“Nessa questão do desmatamento, alguns falam em gerar emprego, fazer comida para o mundo, mas esse discurso é mais fake (falso, em inglês) do que fato. Está muito mais ligada à valorização imobiliária do que à produção. Só que especulação imobiliária é um nome feio. Então, eles falam que o planeta vai passar fome. O que é mais engraçado é que são poucas pessoas, só que eles fazem um barulho muito grande e a gente é manchado por essas poucas pessoas que representam todos nós”, destaca.
O pecuarista sugere, em nome da boa imagem do agronegócio, que o setor preocupado em andar dentro da lei seja o próprio agente fiscalizador dos criminosos.
“Nessa máxima de separar o joio do trigo, não tem ninguém melhor do que nós mesmos porque, quem entende disso, somos nós. Precisamos, mais que tudo, puxar essa responsabilidade para nós. Estamos numa fase muito boa para poder fazer isso porque hoje, agora, está tudo mudando. De 2018 até inicio deste ano, tínhamos dificuldade de matéria-prima, que é o bezerro, que estava muito caro, e o produtor comprava qualquer coisa. Isso está invertendo”, finaliza.
Veja outros trechos da entrevista em vídeo com o pecuarista Mauro Lúcio Costa aqui.
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