Por Fabrício Queiroz
Com um rebanho de mais de 26 milhões de bovinos e um programa pioneiro para rastrear individualmente todos os animais até 2026, o Pará traça um caminho rumo à uma pecuária mais sustentável. A meta estabelecida pelo governo é apoiada pelo setor produtivo que lançou seu próprio projeto para fortalecer a criação de gado livre de desmatamento com assistência técnica e regularização fundiária e ambiental.
Esses são os objetivos do Programa de Produção Sustentável de Bezerros, desenvolvido pela Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) e a Iniciativa para o Comércio Sustentável (IDH, na sigla em inglês), que busca alcançar a adesão voluntária de 160 pecuaristas do município de Castanhal nesta primeira etapa de execução.
Inicialmente, o trabalho é focado no engajamento de produtores, esclarecendo dúvidas sobre como serão realizadas as análises socioambientais e a assistência técnica nas propriedades rurais que aderiram ao programa. Porém, a ideia é alcançar até 600 propriedades até o final do ano e fazer o agro avançar em estratégias com menos impacto ambiental na Amazônia.
“A perspectiva é muito positiva, pois o programa tem como principal motivação o atendimento e orientação dos produtores com relação a regularização fundiária e ambiental, situações que apresentam complexidade principalmente para os pequenos produtores, que são o foco do Programa. Nessa primeira etapa, será feito o refinamento da metodologia e as adequações necessárias à realidade dos produtores paraenses. Feito isso, poderemos pensar em expansão das atividades conjuntamente com outros parceiros interessados em alavancar essa agenda no estado”, explica a assessora técnica da Faepa e gestora do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado (Fundepec), Rosinayra Ramor.
O modelo no Pará é baseado nas características e demandas locais, porém é inspirado em experiência semelhante já adotada no Mato Grosso com o apoio da IDH e que levou ao registro de mais de 200 mil animais no Protocolo de Produção Sustentável de Bezerros. Em cerca de dois anos de atividades naquele estado, os primeiros cortes de carne bovina 100% livre de desmatamento, rastreada desde o nascimento do bezerro e com numeração oficial seguindo as orientações do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) chegaram aos supermercados.
“A atuação é pautada na proposição de soluções que fortaleçam a cadeia produtiva com sustentabilidade, rentabilidade e inclusão, desde a origem dos animais”, reforça a assessora da Faepa.
Na COP28, o Pará lançou o plano para implementar a rastreabilidade no rebanho do estado, que já recebeu financiamento de R$ 80 milhões da organização filantrópica do empresário Jeff Bezos. Além de contribuir com os compromissos para reduzir o volume de emissões dos gases do efeito estufa, o programa vem ao encontro das necessidades do setor de acessar mercados cada vez mais exigentes, como a Europa, onde uma lei antidesmatamento proíbe a importação de produtos que tenham contribuam para a devastação florestal.
“O Programa de Produção Sustentável de Bezerros tem a atuação pautada pela conformidade legal, respeitando os direitos dos produtores, fornecendo apoio para que a cadeia pecuária atenda a esses requisitos e incentivando o diálogo para melhorar as políticas públicas. É um Programa gratuito, inclusivo, voluntário, inovador, alinhado com o Código Florestal Brasileiro e as necessidades dos mercados”, acrescenta Rosinayra Ramor.