Por Ericka Pinto
Identificar a origem da carne bovina que chega à mesa do consumidor é essencial para entender o nível de comprometimento das empresas no combate ao desmatamento no Brasil. Mas como saber isso? O Radar Verde foi criado justamente para avaliar a efetividade das políticas de controle do setor sobre sua cadeia de produção.
Em sua segunda edição, a partir da próxima segunda-feira,3, a pesquisa Radar Verde será aplicada junto a 133 empresas frigoríficas e a 69 supermercados em todo o País, com o objetivo de comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento na Amazônia.
Nesta quarta-feira, 28, os pesquisadores apresentaram a nova metodologia que será aplicada para o levantamento das informações, como a identificação do Grau de Exposição ao Risco de Desmatamento, no caso dos frigoríficos, e do Grau de Controle da Cadeia da Carne, para os varejistas.
“Todos os indicadores são feitos de maneira que o consumidor tenha o poder de identificar quais são os frigoríficos e supermercados que estão agindo de forma mais avançada nesse controle, prestando conta para a sociedade. O setor investidor também recebe essas informações para avaliar como está cada empresa, além dos grandes compradores e importadores de carne”, Alexandre Mansur, pesquisador do Radar Verde.
As empresas de frigoríficos e de supermercados recebem o questionário e o termo de anuência e terão até agosto para responder aos questionários, de forma voluntária.
O Radar Verde é uma iniciativa do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do nstituto O Mundo Que Queremos (OMQQ), com financiamento da Iniciativa Internacional de Clima e Florestas da Noruega (NICFI) e do Instituto Clima e Sociedade (iCS). Os resultados dos indicadores da pesquisa serão divulgados em novembro de 2023.
O rebanho da Amazônia
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a Amazônica concentra 43% do rebanho bovino do Brasil, sendo a criação de gado a principal causa do desmatamento na região. Hoje, 90% da área desmatada nessa região vem do pasto.
A superintendente de Gestão Ambiental da USP, Patrícia Iglecias, considera que a implementação de ferramentas efetivas de rastreamento da origem da carne é algo essencial para que os frigoríficos e empresas varejistas possam alcançar o chamado desmatamento zero em suas cadeias produtivas.
“O desflorestamento das áreas naturais tem causado um impacto devastador sobre a questão da perda da biodiversidade e também uma contribuição grande no tema das mudanças climáticas. Hoje, há um desafio e é para esse desafio que nós chamamos o setor, de garantir que os fornecedores diretos e indiretos também estejam fora da questão do desmatamento ilegal”, disse Patrícia.
O consumidor também tem papel fundamental na mudança de cenário do desmatamento para áreas de pastagem. Pesquisas como a do Radar Verde também podem e devem contribuir para uma escolha mais consciente da carne que se consome. Para o cientista Carlos Nobre, envolver esses atores na pesquisa também ajudará no combate ao desmatamento.
“É importante divulgar muito o Radar Verde entre os consumidores. Para salvar o planeta nós precisamos zerar as emissões. E o consumidor tem papel importante nisso também. Essa ferramenta da pesquisa deve contribuir para que o consumidor só compre carne de áreas que não estejam relacionadas ao desmatamento ilegal”, afirmou Nobre.
Em 2022
Em 2022, o Radar Verde convidou 90 frigoríficos e 69 redes varejistas a comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento na Amazônia. Apenas 5% das empresas aceitaram participar e nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final.