A produção agropecuária é uma das principais formas de ocupação do solo na Amazônia. Dados do Mapbiomas apontam que são 95 milhões de hectares usados pela agricultura e criação de gado, sendo 80% dessa área dedicada à pecuária. Apesar da importância econômica desse setor para a região, um relatório recém-publicado pela Amazônia 2030 mostra que os benefícios socioeconômicos e ambientais do setor podem ser potencializados com a adoção de práticas mais produtivas.
Intitulado “Da ‘escassez’ à abundância: O caso da pecuária bovina na Amazônia”, o trabalho destaca alguns problemas do pecuária, entre eles o baixo índice de geração de renda, visto que o rendimento médio dos trabalhadores é de R$ 1.118 por mês, cerca de 34% a menos do que o dos demais trabalhadores. Além disso, muitos empreendimentos têm sua produtividade afetada devido à degradação que atinge cerca de 54% dos pastos.
Na avaliação dos pesquisadores, as razões estão ligadas às políticas públicas que incentivam a abertura de novas áreas com o desmatamento e direcionam a maior parte do crédito para negócios com baixo investimento em agregação de conhecimento técnico e tecnologias de manejo, por exemplo.
Segundo o estudo, quase R$ 10 bilhões em crédito rural para pecuária bovina contratados em 2020 foram usados para aquisição de animais. Em contrapartida, apenas 12% dos recursos de investimentos e 1,8% do custeio foram destinados a melhoria das pastagens.
O problema desse tipo de fomento é o aumento da pressão e especulação sobre as áreas de floresta que tendem a ficar ainda maiores com a crescente demanda por carne. As projeções da pesquisa indicam que para atender a essa demanda seria necessário desmatar cerca de 1 milhão de hectares por ano até 2030, caso esse modelo de produção persista.
Soluções: melhorar as práticas de cultivo e manejo do pasto
Para mudar esse cenário, a recomendação é melhorar as práticas de cultivo e manejo do pasto, o cuidado sanitário dos animais e o treinamento de pessoal. A boa notícia é que todas essas tecnologias promovidas pelo modelo de pecuária intensiva, como é o caso do pastejo rotacionado, já estão disponíveis e podem ser replicadas em muitas propriedades.
“A pecuária mais produtiva poderia liberar 37 milhões de hectares de terras na Amazônia. A restauração florestal destas áreas é uma oportunidade crescente para gerar receitas, empregos e reduzir riscos de seca”, diz um trecho do artigo assinado por Paulo Barreto, Ritaumaria Pereira e Arthur Rocha, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Além de garantir o melhor uso da terra, a pecuária intensiva é capaz de aumentar a produtividade média do gado bovino, passando de 80 kg de carne por hectare/ano para 300 kg por hectare/ano. De acordo com o relatório, para alcançar esse impacto é preciso priorizar o crédito para fazendas mais próximas de frigoríficos, onde a incorporação de inovações costuma ser mais frequente.
“Com o crédito rural contratado na região (R$ 9,5 bilhões em 2021), seria possível reformar em cinco anos os 15 milhões de hectares de pastos degradados nas zonas até 60 km dos frigoríficos”, destaca o documento.
Aliado a isso, os pesquisadores defendem a execução do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), retomado no ano passado e que teve um impacto importante entre os anos de 2003 a 2013 promovendo estratégias de aumento da produção e combate ao desmatamento.
“O eventual enfraquecimento do PPCDAm desestimularia o uso mais produtivo das terras, agravaria os extremos climáticos como secas e enchentes e aumentaria os boicotes aos produtos agropecuários e de financiamento, tanto para a região quanto para o país”, afirma o estudo.