Por Ivana Guimarães
Você já parou para pensar na importância de contar histórias a partir da perspectiva dos moradores de um lugar? Este é o objetivo da Casa de Mensagens, um projeto desenvolvido por organizações como o Comitê Chico Mendes, a Cojovem, o Instituto Mapinguari e o Observatório do Marajó, em parceria com a Purpose Brasil para que os próprios amazônidas possam atualizar o discurso sobre a Amazônia.
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O site aborda a proteção e preservação da região, combatendo os discursos desenvolvimentistas e predatórios.
“É preciso informar uma Amazônia que existe além das florestas, queremos que as pessoas sintam a Amazônia enquanto lar, assim como nós que moramos aqui sentimos. E que as próprias florestas, rios e cidades aqui se misturam em maneiras diversas e únicas, gerando culturas e tecnologias próprias”, explicou Hannah Balieiro, diretora-executiva do Instituto Mapinguari.
No site, as mensagens feitas de forma coletiva pelas organizações foram inseridas graficamente em uma casa ribeirinha para destacar que a conversa é sobre o lugar que essas vozes habitam.
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Na varanda estão mensagens sobre o resgate da memória dos povos. Já no interior da casa, sobre a construção de políticas de coexistência. No quintal, recados sobre a reintegração de tecnologias ancestrais, valores e modos de vida deixados como legado pelos antepassados, como escrita e manuseio de plantas.
Ao Pará Terra Boa, Nara Perobelli, campaigner da Purpose Brasil, defendeu que narrativas não são apenas narrativas, já que elas se traduzem em práticas.
“Percebemos que existem muitas narrativas que colocam a Amazônia como um território a ser explorado, reforçando violências como garimpo, invasão de terras e lavagem verde. Outras histórias retratam a Amazônia como floresta encantada, romantizando e ocultando os problemas. Então a gente entende que reforçar narrativas de comunidades tradicionais e originárias, que vivem em harmonia com a natureza, é fortalecer práticas de agroecologia, produção sustentável, e manejo responsável da floresta.”
Luís Barbosa, gestor de mídia e conteúdo do Observatório do Marajó, contou que a Casa de Mensagens considera a crise climática atual, partindo do ponto de vista das populações ribeirinhas, quilombolas e extrativistas, que acabam sentindo primeiro os efeitos dessas crises.
“Tem acontecido alguns casos de enchentes em uma região que é praticamente colada no Marajó, que é a região do Tocantins. Então é uma realidade muito próxima. A gente sente as chuvas do inverno amazônico de uma forma muito impactante. Então o projeto atua na questão das mudanças climáticas no sentido de levar informação e reflete muito do que as próprias populações veem.”
Embora faça parte da Amazônia, o Marajó tem questões específicas que requerem políticas públicas específicas. Para Luís, faz todo o sentido ter projetos que refletem essa realidade, porque eles traduzem em uma linguagem audiovisual aquilo que a população vive.
“Por ter questões muito específicas, até os impactos ambientais acabam sendo diferentes no Marajó. Por isso que a gente sempre chama atenção para que os governos locais prestem atenção e não implementem políticas que acabam servindo para outras partes do estado e não para a gente. Por exemplo, a gente se locomove por barco quase integralmente, diferente das outras faixas do estado que é pela rodovia.”
As ilustrações foram desenvolvidas por artistas da região, como Henrique de Almeida (Acre), Gil Reis (Amapá), Thai Rodrigues (Amapá), Irena Freiras (Amazonas), Fred Hildebrand (Mato Grosso), Renata Segtowick (Pará), Winny Tapajós (Tocantins) e Jailson Belfort (Maranhão). Os vídeos para redes sociais têm narração de Maré Cheia (Pará).