Uma toxina encontrada numa aranha nativa da Amazônia têm potencial para o desenvolvimento de fármacos e até mesmo de inseticidas biológicos, de acordo com estudo realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Instituto Butantan.
“Em 2023 completam-se cem anos da descrição dessa espécie (a tarântula Acanthoscurria juruenicola), e só agora conseguiu-se caracterizar o veneno. As aranhas costumam ter um volume muito pequeno de peçonha, então só as tecnologias mais recentes são capazes de fazer uma caracterização que dê conta da diversidade de toxinas produzidas por esses animais”, conta Alexandre Tashima, professor da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) apoiado pela FAPESP e coordenador do estudo.
No total, os pesquisadores encontraram 92 proteínas, sendo 14 delas ricas em substâncias estudadas como potenciais agentes analgésicos.
Alguns dessa substâncias causam paralisia de insetos e, em sinergia com outros componentes, tornam o veneno um coquetel eficiente para a imobilização das presas. Ensaios com a injeção de pequenas quantidades do veneno em grilos demonstraram que, 24 horas após os testes, os insetos ainda não tinham voltado a se mexer.
Na Austrália, a demanda por proteger as lavouras sem afetar abelhas e outros animais fez com que um inseticida biológico oriundo de toxinas de aranha chegasse ao mercado.
Anteriormente, os grupos da Unifesp e do Butantan tinham estudado outra espécie de Acanthoscurria com o mesmo potencial. Por meio de ferramentas de computação, o veneno da aranha havia mostrado ainda possível efeito antimicrobiano, o que pode ocorrer também na espécie estudada agora.
“Nossa biodiversidade ainda traz muitas boas surpresas, por isso também é fundamental a conservação do meio ambiente. A solução para muitos problemas pode estar escondida em espécies ainda não descobertas ou mesmo em outras já descritas há muito tempo, como essa aranha”, encerra o pesquisador.
Fonte: André Julião/Agência Fapesp