A partir desta sexta-feira, 4, Belém se transforma num poderoso centro de debates sobre o meio ambiente, o que pode significar um recomeço da proteção da floresta e de seus povos.
Com Diálogos Amazônicos (de 4 a 6 de agosto), a Cúpula da Amazônia ( 8 e 9 de agosto), a retomada da cooperação política entre os países da região para a preservação do bioma ganha relevância. É a grande chance de mudar o atual estado das coisas ou a maior floresta tropical do planeta pode estar com seus dias contados, uma vez que o desmatamento e a destruição ecossistêmica atingirem níveis preocupantes.
O Amazônia Real conversou com lideranças ambientais e sociais da Amazônia sobre as expectativas em torno da Cúpula. Por um lado, alguns entendem que a volta da floresta à agenda política de alto nível dos governos amazônicos é importante e pode reviver a cooperação pela proteção ambiental. Por outro, as feridas deixadas por tentativas anteriores ainda estão abertas, o que desperta alguma desconfiança sobre o que pode sair desse evento.
“Quem vai criar os mecanismos para frear a destruição vão ser os mesmos que destruíram? Não se pode falar em mudanças climáticas e continuar apostando em hidrelétricas, mineração, monocultura e agronegócio”, disse Raimundo Magno, doutorando em sociologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e líder quilombola.
Ele diz torcer para que a cúpula seja “mais do que marketing ambiental e empresarial” e que, a despeito do discurso atual do poder público, “não existe ainda a construção de um diálogo efetivo com as Comunidades Tradicionais e os Povos Originários”.
Por isso, há um esforço do governo federal, especialmente do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, para dar mais peso político às discussões e eventuais decisões do encontro de chefes de governo da Pan-Amazônia. Em entrevista à Revista Cenarium, a ministra Marina Silva defendeu a cooperação entre os países da região como caminho para a proteção da floresta.
“O momento é de cooperação. Esperamos que Belém não seja apenas mais um evento, que seja um espaço para tomada de decisão e encaminhamentos práticos que têm a ver com financiamentos e trocas de experiências”, afirmou Marina. “Convocar uma Cúpula da Amazônia significa fazer um esforço para que possamos enfrentar o problema do desmatamento, não apenas como um país isolado, mas como uma articulação entre os oito países do Tratado de Cooperação Amazônica”.
Movimentos sociais, comunidades e populações tradicionais e ambientalistas também estão pressionando os governos amazônicos a sair da letargia. O InfoAmazonia deu mais detalhes sobre a mobilização da sociedade civil antes e durante a Cúpula de Belém, que envolve a participação nos Diálogos Amazônicos, parte da programação oficial, e a eventos paralelos que devem acontecer na capital paraense.
Ainda sobre a Cúpula, o presidente Lula reiterou na terça-feira, 1, o objetivo de articular uma resposta dos países amazônicos, além de outras nações com grande estoque de florestas, para a COP28 de Dubai.
“Vamos a Belém fazer o grande encontro que vai reunir os oito chefes de Estado da América do Sul que têm a floresta amazônica, mais os dois Congos, que têm grandes florestas na África, e a Indonésia, país que tem mais floresta na região asiática. Vamos fazer esse encontro para começar a elaborar uma proposta para a COP28”, disse Lula, citado pelo Correio Braziliense.
Por falar na COP28, a Cúpula da Amazônia também receberá o presidente-designado da Conferência, Sultan al-Jaber. Esta será a primeira visita do futuro chefe da COP de Dubai ao Brasil.